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Dois em cada três habitantes de favela moram em vias sem árvores

No ano em que o Brasil sediou a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), o Censo 2022 do IBGE revelou uma preocupante desigualdade ambiental nas favelas brasileiras: cerca de 64,6% dos moradores dessas comunidades vivem em trechos de vias públicas sem sequer uma árvore. Isso significa que mais de 10 milhões de pessoas estão expostas a ambientes urbanos com baixa arborização, enquanto fora das favelas essa proporção cai para 31%, mostrando um quadro grave de exclusão territorial.

O levantamento, que considerou apenas árvores com pelo menos 1,70 metro em vias públicas — incluindo becos, vielas e escadarias, mas excluindo vegetação em quintais — também identificou que a presença de árvores diminui conforme a favela é mais populosa. Em comunidades com até 250 habitantes, 45,9% dos moradores tinham uma árvore em frente de casa, percentual que cai para 31,8% nas favelas com mais de 10 mil moradores. Entre as 20 maiores favelas do país, a situação mais crítica é a do Rio das Pedras, no Rio de Janeiro, onde apenas 3,5% dos seus quase 56 mil habitantes contam com árvore na frente da casa. Em contrapartida, Sol Nascente, em Brasília, segunda favela mais populosa do Brasil, possui 70,7% dos moradores com árvores em seu entorno.

A ausência de arborização está diretamente ligada à qualidade de vida e ao conforto térmico, especialmente diante dos desafios impostos pelo aquecimento global. A arborização urbana auxilia no controle da temperatura e melhora o ambiente, ponto destacado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima durante a COP30 com o lançamento do Plano Nacional de Arborização Urbana, que visa aumentar a cobertura vegetal das cidades brasileiras.

Além da falta de árvores, o Censo indicou que apenas 45,4% dos moradores das favelas dispõem de bueiros — estruturas essenciais para o escoamento da água da chuva e imprescindíveis para a mitigação de impactos climáticos. Nas regiões não faveladas, essa presença é significativamente maior, chegando a 61,8%. A pesquisa reforçou ainda que quanto maior a comunidade, maior a presença de bueiros, embora longe do ideal.

A exclusão ambiental nas favelas está inserida em um contexto mais amplo de desigualdade e vulnerabilidade social. A população dessas áreas enfrenta ainda saneamento precário, acesso irregular à água e riscos exacerbados por eventos climáticos extremos, como enchentes e ondas de calor, que impactam com maior intensidade justamente o segmento mais pobre e marginalizado da sociedade. Estudos apontam que as favelas são vítimas das chamadas “ilhas de calor”, devido à concentração de asfalto e concreto e à escassez de áreas verdes, o que eleva a temperatura e aumenta os riscos à saúde dos moradores.

Essa situação evidencia a urgência de políticas públicas integradas que considerem as especificidades e vulnerabilidades das favelas no combate às mudanças climáticas e na promoção da justiça ambiental, enfrentando históricas desigualdades urbanas e sociais que perpetuam condições insuficientes de infraestrutura e qualidade de vida para milhões de brasileiros.

Fonte: Agência Brasil – Matéria Original (Clique para ler)