O Itaú Cultural lançou em São Paulo o Dossiê Acessibilidade, um material voltado a garantir a participação efetiva das pessoas com deficiência nas áreas de produção e criação artísticas. O documento reúne dados estatísticos e marcos legais, além de orientar trabalhadores da cultura sobre como adaptar espaços e obras para assegurar o pleno exercício do direito à fruição artística dessa parcela da população. A iniciativa destaca a importância da autonomia das pessoas com deficiência e aponta que, atualmente, esse direito é frequentemente negado, tanto no cotidiano quanto no acesso à cultura.
Especialistas apontam que, apesar de alguns esforços como a instalação de rampas ou a contratação de profissionais que dominam a Língua Brasileira de Sinais (Libras), geralmente essas ações não contemplam todas as necessidades específicas do público com deficiência. Críticas foram feitas à superficialidade dessas medidas, que muitas vezes ignoram particularidades essenciais para o acesso pleno, como a funcionalidade correta dos pisos táteis, que em alguns casos levam a obstáculos ao invés de orientação adequada. O conceito de acessibilidade é ressaltado não apenas como uma questão técnica, mas também estética, reforçando o crescimento do movimento chamado cultura def, que valoriza as experiências, diversidade de corpos e capacidades das pessoas com deficiência no campo cultural.
O termo “inclusão” é revisto pela equipe do dossiê, que considera sua utilização problemática por implicar uma hierarquia entre quem inclui e quem é incluído, o que contraria o ideal de igualdade na participação e na tomada de decisões dentro das organizações culturais. A reivindicação é para que pessoas com deficiência ocupem posições além das operacionais ou de menor complexidade, ampliando sua presença na iniciativa privada e no setor cultural.
Com base em análise de quase 200 equipamentos culturais na Grande São Paulo, a pesquisadora Mariana Oliveira Arantes identificou a necessidade de aprimorar o vocabulário utilizado por profissionais do meio, que ainda empregam termos inadequados como “alunos especiais”. Ela também observou ansiedade entre artistas e agentes culturais frente às novas exigências de acessibilidade em editais de fomento, que criam pressão para implementação tardia e inadequada de recursos, caracterizando uma “acessibilização fajuta”.
Na prática, o processo de inclusão efetiva é complexo e exige colaboração e organização constantes, como destacou Claudio Rubino, consultor de acessibilidade, que alerta para a necessidade de esforços coletivos nos espaços culturais. Projetos pioneiros, como o Bolsa de Artista Tomie Ohtake, já incorporam uma postura anticapacitista, combinando texturas, audiodescrição e paisagens sonoras para ampliar o acesso sensorial às obras e proporcionar experiências estéticas variadas para todos os públicos.
O Itaú Cultural mantém o compromisso de ampliar a acessibilidade e tem investido em diversas frentes que envolvem capacitação, pesquisa e desenvolvimento de materiais educativos acessíveis. O Dossiê Acessibilidade está disponível no site do instituto, oferecendo um recurso fundamental para o avanço da cultura inclusiva no Brasil.

