Milhares de manifestantes saíram às ruas em várias capitais brasileiras nesta sexta-feira (31) para protestar contra a Operação Contenção, ação policial realizada no Rio de Janeiro que se tornou a mais letal da história do país, com 121 mortos, entre eles quatro policiais. A operação ocorreu na última terça-feira (28) nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte da cidade, mobilizando cerca de 2,5 mil agentes e resultando em intensa troca de tiros.
No Rio de Janeiro, moradores das comunidades atingidas, familiares das vítimas e representantes de movimentos sociais se reuniram na Vila Cruzeiro, na Penha e no Alemão para manifestar repúdio às mortes e exigir justiça, responsabilização do governador Cláudio Castro e o fim da violência policial. O protesto reuniu mães de jovens mortos em operações anteriores, que participaram mesmo sob chuva, carregando velas e vestindo branco em homenagem aos mortos.
Em São Paulo, o ato concentrou movimentos negros e entidades de direitos humanos na Avenida Paulista, que pediram a federalização das investigações e políticas de acolhimento e reparação às famílias afetadas. Participaram grupos como o Movimento Negro Unificado, a Marcha das Mulheres Negras e a Unegro, que seguiram em passeata pela Rua da Consolação. A mobilização denunciou o que classificaram como “necropolítica”, política de extermínio da população negra e periférica.
No Maranhão, manifestantes ocuparam a Praça Deodoro, em São Luís, com faixas e cartazes criticando a ausência de políticas públicas para as periferias e denunciando execuções e torturas durante a operação. Movimentos locais ressaltaram que dezenas de corpos foram recolhidos por moradores em locais públicos e advertiram que isso representa uma continuidade da política de extermínio contra a população periférica.
Em Brasília, o ato ocorreu próximo à Esplanada dos Ministérios, com pedidos por uma investigação independente e a responsabilização dos responsáveis pela operação. O Conselho Nacional de Direitos Humanos solicitou informações ao Supremo Tribunal Federal sobre o caso e encaminhou pedido de perícia autônoma ao Ministério dos Direitos Humanos, destacando o caráter discriminatório e violento da ação policial.
A operação, que tinha como objetivo principal cumprir 100 mandados de prisão contra membros do Comando Vermelho, prendeu oficialmente 20 alvos, além de levar à morte 15 pessoas que estavam na lista de procurados. Entre os presos está o operador financeiro de um dos chefes da facção, Edgar Alves de Andrade, conhecido como Doca, ainda foragido. A ação também resultou na apreensão de materiais que devem sustentar investigações sobre lavagem de dinheiro ligada ao crime organizado.
Criticada por organizações nacionais e internacionais, incluindo a Anistia Internacional, que classificou a operação como desastrosa, a Operação Contenção suscitou amplo debate sobre os métodos empregados pela polícia e o modelo de segurança pública adotado no Rio de Janeiro e no Brasil. Os protestos pelo país evidenciam a crescente mobilização social contra a violência policial e o pedido por mudanças profundas na gestão da segurança e na proteção dos direitos humanos.

