Em uma carta apresentada durante a reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial em Washington, o ministro da Fazenda brasileiro, Fernando Haddad, posicionou o Brasil na vanguarda do debate global sobre justiça fiscal e sustentabilidade. O argumento central do documento é que a taxação dos super-ricos em escala global é fundamental para financiar o enfrentamento das mudanças climáticas e reduzir a desigualdade social, desafios considerados, na visão de Haddad, estruturantes para estabilidade econômica e coesão social no século XXI.
A defesa da taxação global dos super-ricos, apresentada pela secretária de Assuntos Internacionais, Tatiana Rosito, vai além da busca por recursos: propõe uma “nova globalização” guiada por critérios socioambientais e uma reforma tributária internacional progressiva. O documento afirma que o sistema tributário vigente é “inadequado”, pois permite uma concentração de riqueza sem precedentes e facilita a evasão e a elisão fiscais. Segundo o ministério, chegou o momento de os super-ricos pagarem sua “parte justa” de impostos, com transparência e equidade.
No plano interno, o governo brasileiro vincula a política econômica à justiça social, destacando a isenção tributária para quem ganha até R$ 5 mil mensais e descontos proporcionais para faixas intermediárias, financiados por um mínimo imposto cobrado dos mais ricos. O equilíbrio das contas públicas, reforça o texto, não pode ocorrer em detrimento da equidade social; equilíbrio fiscal e justiça social andam lado a lado, segundo a visão do ministro.
Haddad reconhece, porém, os limites impostos por um Congresso mais conservador, o que exige estratégias de negociação para viabilizar avanços progressistas em políticas públicas. Mesmo assim, o Brasil reafirma o compromisso com o controle da inflação, mantendo o Banco Central independente, e projeta crescimento econômico, queda do desemprego e da desigualdade, além de avanços graduais no superávit primário até 2029.
No cenário internacional, o ministro demonstra preocupação com o aumento de medidas unilaterais e protecionistas, que, em sua visão, aumentam incertezas e ameaçam o crescimento global. A saída, defende Haddad, está na reconstrução do multilateralismo, com regras previsíveis, inclusivas e ambientalmente responsáveis. O documento sugere que o FMI e o Banco Mundial liderem essa transição, em um contexto de riscos estruturais como inflação persistente, juros elevados, envelhecimento populacional e mudanças climáticas.
A reforma da governança do FMI também é reivindicada, com maior representatividade para países em desenvolvimento e preservação da independência analítica da instituição. Haddad propõe que o órgão seja mais transparente na análise de restrições comerciais e cortes na ajuda internacional, atuando como “farol altamente valorizado” para orientar políticas públicas globais.
Em síntese, a carta sintetiza a visão brasileira de que a equidade fiscal e a sustentabilidade ambiental precisam estar no centro do debate econômico internacional. Para Haddad, isso significa fortalecer o multilateralismo, revisar regras globais de tributação, ampliar a participação dos países em desenvolvimento e garantir que os super-ricos contribuam proporcionalmente para o custeio de políticas públicas essenciais, promovendo uma economia global mais estável, justa e verde.
