Em Roma, durante a abertura do Fórum Mundial da Alimentação desta segunda-feira, 13 de outubro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um vigoroso apelo para que a inclusão dos mais pobres seja prioridade nos orçamentos nacionais. O encontro, que reuniu chefes de Estado, ministros e delegações de vários países na sede da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), foi palco de uma defesa contundente: a fome é um problema político, não apenas econômico, e sua superação exige decisão firme dos governantes.
“Não se trata de assistencialismo”, enfatizou Lula. “É preciso colocar os pobres no orçamento e transformar esse objetivo em política de Estado. Para evitar que avanços fiquem à mercê de crises ou marés políticas. Mesmo líderes de países com orçamentos pequenos podem e precisam fazer essa escolha.” O presidente foi além ao afirmar que, no momento de definir prioridades na elaboração do orçamento, é fundamental lembrar que os pobres não podem ser tratados como invisíveis. “Se a gente fizer isso, a gente acaba com a fome no mundo”, declarou.
O discurso foi reforçado com dados positivos da atuação brasileira. Lula relembrou o anúncio feito pela FAO de que o Brasil saiu, novamente, do Mapa da Fome. “Trinta milhões de pessoas começaram a almoçar, jantar e tomar café. Em 2024, alcançamos a menor proporção de domicílios em situação de insegurança alimentar grave da nossa história”, disse o presidente. Ele também destacou que o país registrou, no mesmo período, o menor percentual de domicílios com crianças menores de 5 anos em situação de insegurança alimentar grave, interrompendo um ciclo histórico de exclusão.
Lula ressaltou que a soberania de um país está diretamente relacionada à sua capacidade de alimentar seu povo. “Um país soberano é um país capaz de alimentar o seu povo. A fome é inimiga da democracia e do pleno exercício da cidadania. É possível superá-la por meio de ação governamental, mas governos só podem agir se dispuserem de meios”, afirmou. Para tanto, defendeu a ampliação do financiamento ao desenvolvimento, a redução dos custos de empréstimos, o aperfeiçoamento dos sistemas tributários e o alívio das dívidas dos países mais pobres.
A reforma da arquitetura financeira internacional foi apontada como uma medida crucial para garantir a segurança alimentar global. “Não basta produzir. É preciso distribuir. Poucas iniciativas contribuiriam tanto para a segurança alimentar quanto uma reforma da arquitetura financeira internacional, que direcionasse recursos para quem mais precisa”, argumentou Lula.
O presidente também chamou a atenção para a contradição vivida na América Latina e no Caribe, regiões consideradas celeiro do mundo, mas que ainda convivem com a fome. Já na África, apesar do crescimento econômico, os níveis de insegurança alimentar seguem preocupantes. Segundo Lula, essas disparidades mostram que o desafio não é apenas aumentar a produção, mas assegurar o acesso justo aos alimentos.
O fórum deste ano, que também celebra os 80 anos da FAO, reforça a necessidade de transformação dos sistemas agroalimentares como caminho para enfrentar a crise climática e garantir alimentação adequada para todos. A presença de Lula foi marcada por diálogos sobre boas práticas em segurança alimentar e agricultura sustentável, além de uma defesa do compromisso inabalável com os mais vulneráveis.
Horas antes, o presidente brasileiro havia se reunido com o papa Leão XIV, em encontro no Vaticano. Lula parabenizou o pontífice por sua mensagem de preocupação com os mais pobres, expressa na Exortação Apostólica Dilexi Te, e destacou a importância de unir fé e ação em defesa dos excluídos. “Precisamos criar um amplo movimento de indignação contra a desigualdade”, disse o presidente.
A fala de Lula em Roma ecoou o tom de urgência e esperança. Para ele, a erradicação da fome não depende apenas de mecanismos técnicos, mas da vontade política de colocar os mais vulneráveis no centro das decisões. “A fome não é um problema econômico. A fome é um problema político. Se houver interesse político dos governantes, se encontrará um jeito de colocar o café da manhã, o almoço e a janta para o povo pobre do mundo inteiro”, concluiu.

