Mesmo obtendo esmagadora maioria dos votos, resolução do Brasil apresentada no Conselho de Segurança da ONU sobre o conflito na na Faixa de Gaza não prosperou. Por apenas um voto contrário, os EUA utilizaram seu poder de veto e derrubaram a resolução.
As resoluções do Conselho de Segurança devem sem aprovadas por todos os membros-permanentes (China, EUA, França, Reino Unido e Rússia), que têm poder de veto.
O texto apresentado pelo Brasil solicitava a abertura de corredores humanitários em Gaza, condenando os ataques do Hamas, e pedindo pausas na guerra para atendimento aos civis e a retomada de serviços essenciais.
“O governo brasileiro lamenta que, mais uma vez, o uso do veto tenha impedido o principal órgão para a manutenção da paz e da segurança internacional de agir diante da catastrófica crise humanitária provocada pela mais recente escalada de violência em Israel e em Gaza. O Brasil considera urgente que a comunidade internacional estabeleça um cessar-fogo e retome o processo de paz”, disse em nota o Itamaraty.
O ministério destacou ainda que o Brasil tentou reduzir a polarização em torno da guerra no Oriente Médio ao “acomodar posições e interesses divergentes e apresentar texto capaz de proteger as vidas de civis e de assegurar o acesso humanitário à população civil da Faixa de Gaza”.
A proposta condenava os atos do Hamas contra Israel em 7 de outubro como sendo atos terroristas, apelava para libertação imediata e incondicional de todos os reféns civis e pedia uma pausa no conflito para a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, os chamados corredores humanirários.
A resolução exigia ainda “o fornecimento contínuo de bens essenciais para a população civil, como artigos médicos, água e alimentos; e pede a rescisão da ordem para que civis e funcionários das Nações Unidas evacuem toda a área em Gaza ao norte de Wadi Gaza”.
A proposta teve 12 dos 15 votos do Conselho de Segurança. Porém, como recebeu o veto dos Estados Unidos – membro permanente do Conselho – não pode ser aprovada. A Rússia, outro membro com direito a veto, se absteve de vota
China e Brasil criticaram postura dos EUA
O Embaixador da China, Zhang Jun, lançou acusações contundentes contra os Estados Unidos e alegou que Washington induziu os membros do Conselho a acreditar que uma resolução poderia ser adotada sem oposição, apenas para surpreendentemente votarem contra no último momento.
“O resultado final da votação é simplesmente inacreditável”, declarou Zhang Jun, expressando sua consternação diante da situação. O diplomata chinês não poupou críticas aos Estados Unidos por sua conduta durante as negociações cruciais.
Além disso, o representante do Brasil no Conselho expressou sua frustração com a dificuldade em aprovar um texto consensual em meio ao que ele descreveu como uma “catástrofe humanitária”. Em suas palavras, “O Conselho deveria tomar uma atitude e agir rapidamente. A paralisia do Conselho diante de uma catástrofe humanitária não é de interesse da comunidade internacional. Enquanto fazíamos um grande esforço para acomodar posições diferentes — e, às vezes, opostas —, nosso foco estava, e segue estando, na situação humanitária”.
Rússia também criticou os EUA
A Rússia, que se absteve na votação por considerar a resolução proposta pelo Brasil favorárel aos EUA, também fez duras críticas ao ianques.
O Representante Permanente da Rússia na ONU, Vasily Nebenzya, classificou o veto dos EUA à resolução brasileira como um “fracasso da política externa” e uma manifestação de hipocrisia e padrões duplos por parte dos Estados Unidos.
“Acabamos de testemunhar outra manifestação da hipocrisia e dos padrões duplos dos nossos colegas americanos”, disse ele.
Estados Unidos
Após a votação, a embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Linda Thomas-Greenfield, lembrou que o presidente norte-americano, Joe Biden, foi ao Oriente Médio e que, por isso, “apesar de reconhecermos o desejo do governo brasileiro de aprovar a proposta, acreditamos que precisamos deixar essa diplomacia acontecer”.
Linda destacou que os Estados Unidos ficaram desapontados porque a resolução não menciona o direito de Israel de autodefesa. “Como qualquer outro país do mundo, Israel tem o direito de se autodefender”, disse a diplomata.