# Entregadores protestam contra novo sistema de trabalho do iFood no Rio de Janeiro
Um grupo de entregadores por aplicativo se reuniu na Cinelândia, região central do Rio de Janeiro, na sexta-feira 28 de novembro, para protestar contra a nova modalidade de trabalho do iFood chamada +Entregas. Os manifestantes pedem que a empresa reconsidere o sistema, que prevê ao profissional agendar o horário de trabalho em uma região específica da cidade.
Segundo os protestantes, o novo modelo engessa a jornada dos entregadores, causa desordem no mapa das entregas, provoca conflitos entre os próprios trabalhadores e diminui significativamente o valor das corridas. Alexandre Moizinho, coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Direitos, destaca as preocupações da categoria com relação aos ganhos e às despesas operacionais que não acompanharam os reajustes oferecidos pela plataforma.
“Uma das reivindicações dos trabalhadores há um tempo é o aumento da taxa mínima paga pelo iFood de sete para dez reais. Tudo aumentou: gasolina, manutenção das bicicletas e motos. E o lucro do iFood só aumenta a cada ano. Nessa nova modalidade, as taxas podem cair para R$ 3,30”, afirma Moizinho.
O coordenador complementa que além da redução nas taxas, o novo sistema retira a autonomia dos entregadores. “Você precisa agendar o horário de entregas, o que tira a autonomia do entregador em relação ao próprio tempo, e ele fica obrigado a permanecer em um território esperando a corrida acontecer”, destaca.
De acordo com as informações divulgadas pelo iFood, o sistema +Entregas funciona da seguinte forma: o entregador agenda um período de três horas de trabalho em uma região específica da cidade. Durante esse período, ele recebe um valor fixo por hora disponível e um adicional por cada entrega concluída. Há ainda uma restrição: o entregador pode ter, no máximo, duas rotas canceladas ou rejeitadas no período agendado.
A plataforma argumenta que essa modalidade oferece benefícios significativos aos trabalhadores. Segundo a empresa, o sistema permite que o entregador aumente as chances de receber pedidos naquela área, otimize rotas e tenha mais controle sobre sua jornada de trabalho. O iFood afirma ainda que os ganhos são acima da média e que o entregador tem prioridade em receber pedidos em relação aos demais que não participam do “+Entregas”.
Os protestantes também criticaram modelos anteriores de relação de trabalho da plataforma. Eles apontam que a empresa usou por tempo o modelo de operador logístico (OL), onde os entregadores ficavam subordinados a uma terceirizada que atuava como intermediária, controlando pagamentos e rotina de trabalho por regiões. Os profissionais trabalhavam por meio de contratos como microempreendedores individuais (MEI).
Moizinho denuncia que havia coação da plataforma para os trabalhadores entrarem para uma operadora logística. “Se você quisesse trabalhar por conta própria, era impossibilitado, porque o seu aplicativo quase não tocava. Na operadora logística, você tinha que agendar horários de trabalho. Tinha cobrança se trabalhasse naquele dia, se atrasasse, se recusasse corrida. Uma forma do iFood se isentar das responsabilidades, porque a operadora logística cuidava dessa relação com o entregador. E o iFood foge dos processos trabalhistas”, explica.
Em resposta aos protestos, o iFood divulgou nota respeitando o direito à manifestação pacífica e à livre expressão dos entregadores e entregadoras. A empresa reafirma seu compromisso com o diálogo e menciona ter se reunido com representantes da categoria para discutir melhorias nas condições de trabalho. Segundo a plataforma, desde 2022 houve um reajuste acumulado de 22,4% no valor da taxa mínima por entrega, quase o dobro dos 11,8% de inflação acumulada medidos pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor no mesmo período.
A mobilização dos entregadores reflete as tensões contínuas entre a classe trabalhadora e as plataformas de delivery sobre questões de autonomia, remuneração e condições de trabalho em um setor que continua em transformação.

