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Estudo diz que café reduz risco de recorrência de arritmia cardíaca

# Café pode proteger o coração contra arritmias, aponta novo estudo

Um estudo inédito conduzido pela Universidade da Califórnia, em São Francisco (UCSF), nos Estados Unidos, e pela Universidade de Adelaide, na Austrália, apresenta descobertas surpreendentes sobre os efeitos do café na saúde cardíaca. A pesquisa, conhecida como estudo DECAF, sugere que beber uma xícara de café com cafeína diariamente pode reduzir em 39% o risco de recorrência de fibrilação atrial, uma das arritmias cardíacas mais comuns, desafiando décadas de recomendações médicas tradicionais.

A fibrilação atrial é caracterizada por batimentos irregulares e rápidos do coração e representa um problema de saúde significativo em populações envelhecidas. Nos Estados Unidos, a condição afeta aproximadamente 10 milhões de adultos, ocorrendo com maior frequência em pessoas acima dos 60 anos e naquelas com sobrepeso considerável.

## O Estudo

A pesquisa foi conduzida com 200 adultos recrutados de hospitais nos Estados Unidos, Canadá e Austrália entre novembro de 2021 e dezembro de 2024. Os participantes, com idade média de 70 anos, foram selecionados por terem histórico de fibrilação atrial persistente, aleteo atrial ou condições correlatas, além de terem consumido café regularmente nos últimos cinco anos.

Todos os participantes foram submetidos a um procedimento denominado cardioversão elétrica, que consiste na aplicação de um único choque elétrico para restaurar o ritmo cardíaco normal. Após o procedimento, os pacientes foram divididos aleatoriamente em dois grupos. Um grupo foi orientado a consumir pelo menos uma xícara de café com cafeína diariamente durante seis meses, enquanto o outro grupo foi instruído a eliminar completamente a cafeína de sua dieta, incluindo café descafeinado e outras bebidas contendo cafeína.

Durante o período de estudo, os participantes fizeram consultas de telemedicina e videochamadas no primeiro mês, terceiro mês e sexto mês. Os pesquisadores utilizaram eletrocardiogramas realizados em consultório, monitores cardíacos portáteis e dispositivos cardíacos implantáveis para monitorar se os participantes apresentavam recorrência de fibrilação atrial ou aleteo atrial.

## Os Resultados

Os resultados foram notáveis. O grupo que consumiu café apresentou uma taxa de recorrência de 47%, enquanto o grupo que se absteve de cafeína apresentou uma taxa de 64%. Isso resultou em um risco 39% menor de recorrência de fibrilação atrial ou aleteo atrial entre os consumidores de café.

Gregory Marcus, eletrofisiologista da UCSF e diretor do estudo, explicou os mecanismos por trás desses benefícios. Segundo Marcus, a cafeína funciona como diurético, podendo reduzir a pressão arterial e, consequentemente, diminuir o risco de arritmias. Além disso, o café contém diversos outros ingredientes com propriedades anti-inflamatórias que podem contribuir para a proteção cardíaca. Christopher Wong, co-autor do estudo também pela UCSF, enfatizou que a pesquisa quebra um paradigma fundamental na prática médica.

“Médicos sempre recomendaram aos pacientes com arritmia cardíaca minimizar o consumo de café, mas esse teste sugere que o seu consumo é seguro e pode até mesmo proteger o indivíduo”, afirmou Wong. Essa constatação representa uma mudança significativa nas orientações clínicas tradicionais que, historicamente, consideravam a cafeína como proarrítmica, ou seja, capaz de causar ou piorar arritmias cardíacas.

## Limitações e Considerações Importantes

Apesar dos resultados promissores, o estudo possui limitações importantes que os pesquisadores salientam. A pesquisa foi conduzida exclusivamente com participantes que tinham fibrilação atrial controlada ou resolvida após o procedimento de cardioversão elétrica. As conclusões não se aplicam a pessoas que apresentam episódios ativos ou não controlados de fibrilação atrial. Em tais casos, a cafeína poderia aumentar a frequência cardíaca e potencialmente piorar os sintomas.

Além disso, os resultados não se estendem a outras doenças cardíacas ou hipertensão arterial. Os pesquisadores enfatizam que o consumo de café deve ser realizado com moderação e sob supervisão médica adequada. Para indivíduos com arritmias ativas ou não controladas, a orientação tradicional de evitar cafeína ainda pode ser apropriada.

O estudo foi apresentado na conferência anual da Associação Americana do Coração em Nova Orleans em novembro de 2025 e publicado na revista JAMA, reforçando a relevância dos achados para a comunidade médica internacional. Essa pesquisa abre novas perspectivas sobre a relação entre consumo de café e saúde cardiovascular, incentivando futuras investigações e potencialmente reformulando as recomendações clínicas para pacientes com arritmias controladas.

Fonte: Agência Brasil – Matéria Original (Clique para ler)