Ex-primeiro-ministro israelense acusa governo de Benjamin Netanyahu de cometer crimes de guerra em Gaza

Em meio à escalada do conflito entre Israel e Gaza, o ex-primeiro-ministro israelense Ehud Olmert fez duras críticas e afirmou que sim, seu país está cometendo crimes de guerra na Faixa de Gaza. Olmert criticou duramente as ações militares israelenses, ressaltando a gravidade da situação humanitária enfrentada pelos palestinos na região.

O ex-primeiro-ministro israelense Ehud Olmert.

Olmert, que governou Israel entre 2006 e 2009, destacou que a ofensiva israelense tem causado um número alarmante de vítimas civis e destruição em Gaza, o que configura, segundo ele, violações do direito internacional humanitário. Ele pediu o fim imediato das operações militares e a busca por uma solução diplomática para o conflito, enfatizando que a continuidade da guerra só agrava o sofrimento da população palestina.

A posição de Olmert se soma a outras vozes no mundo, que desde o 7 de outubro acusam o governo de Benjamin Netanyahu de empreender uma campanha militar contra a população civil em Gaza, intencionalmente, o que caracterizaria, inevitavelmente, crime de genocídio. O próprio Netanyahu tem contra si um mandado de prisão em aberto emitido pelo Tribunal Penal Internacional.

A crítica do ex-primeiro-ministro israelense ganhou repercussão internacional, especialmente em um contexto no qual o governo de Israel costuma rotular como “antissemita” qualquer um que critique suas ações militares contra a população civil. Entre essas ações estão o bombardeio indiscriminado de áreas densamente povoadas em Gaza, ironicamente denominadas “zonas seguras”, o uso da fome como arma de guerra, além de ataques a hospitais, escolas e universidades, entre outras graves violações do direito humanitário internacional.

Em entrevista à CNN Internacional e outros grandes veículos de comunicação, como AFP e Piers Morgan Uncensored (um dos talk shows de maior audiência no mundo), Ehud Olmert expressou sua opinião sobre o que vem acontecendo na Faixa de Gaza e Cisjordânia, em em meio à escalada de violência no pós 7 de outubro.

Olmert afirmou que o governo liderado por Benjamin Netanyahu está conduzindo uma “guerra de devastação” caracterizada por uma matança indiscriminada, ilimitada, cruel e criminosa de civis palestinos na Faixa de Gaza. Ele ressaltou que não se trata de ações descontroladas de soldados isolados, mas de uma política governamental consciente, perversa, maliciosa e irresponsável que resulta em crimes de guerra.

O ex-premiê criticou o bloqueio israelense à ajuda humanitária em Gaza, que durou 11 semanas, e a negação deliberada de alimentos, remédios e necessidades básicas à população palestina, o que ele classificou como parte de uma política explícita de asfixia.

Olmert denunciou que as operações militares israelenses não têm objetivos legítimos claros, caracterizando a guerra como “sem propósito, sem metas ou planejamento claro e sem chances de sucesso”, e que essa campanha resulta em proporções monstruosas de vítimas civis palestinas, além de perdas entre soldados israelenses.

Ele também condenou a retórica extremista e genocida de membros do governo israelense, incluindo pedidos públicos para queimar vilas palestinas, o que ele classificou como incitação ao genocídio.

Olmert afirmou que os crimes de guerra não ocorrem apenas em Gaza, mas também na Cisjordânia, onde há ações diárias contra palestinos, muitas vezes com conivência ou omissão das forças de segurança israelenses.

Olmert acusa o governo israelense de conduzir uma guerra política privada que transforma Gaza em uma zona de desastre humanitário, com assassinatos indiscriminados de civis, bloqueio humanitário e retórica genocida, configurando crimes de guerra sob a ótica do direito internacional.

A posição de Olmert se soma a uma onda global de críticas e ações diplomáticas contra a condução do conflito por Israel. O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva foi um dos primeiros líderes mundiais a classificar publicamente a ofensiva como “genocídio”, ressaltando que se trata de uma guerra assimétrica na qual “um exército altamente profissionalizado mata mulheres e crianças indefesas”. Lula também condenou a expansão de assentamentos israelenses na Cisjordânia e reiterou o compromisso do Brasil com a solução de dois Estados, com fronteiras baseadas em 1967 e Jerusalém Oriental como capital palestina.

A crescente pressão internacional tem levado cidades e países a adotar medidas concretas. Barcelona, por exemplo, rompeu todas as relações institucionais com o governo de Israel e suspendeu acordos de amizade com Tel Aviv, exigindo o restabelecimento do respeito ao direito internacional e aos direitos fundamentais do povo palestino. O Chile retirou seus adidos militares de sua embaixada em Israel em protesto contra a situação humanitária em Gaza, e já havia chamado de volta seu embaixador no ano anterior. Na América do Sul, a Colômbia foi além e rompeu relações diplomáticas com Israel, além de anunciar a suspensão das exportações de carvão ao país até que o “genocídio termine” e as ordens da Corte Internacional de Justiça sejam cumpridas.

Em meio a esse cenário, Brasil, França e Reino Unido assumem papéis de destaque em iniciativas diplomáticas para a resolução do conflito. O Brasil foi convidado por França e Arábia Saudita para presidir um dos grupos de trabalho da Conferência Internacional para a Solução Pacífica da Questão da Palestina, organizada pela ONU, com o objetivo de promover o respeito ao direito internacional e viabilizar a criação do Estado Palestino. A iniciativa reforça o protagonismo brasileiro, reconhecido historicamente por sua atuação no reconhecimento do Estado de Israel em 1947 e, agora, na busca por uma solução pacífica baseada na coexistência de dois Estados.

A convergência dessas vozes — de ex-líderes israelenses, chefes de Estado, cidades e países — evidencia o crescente isolamento internacional do governo Netanyahu e o fortalecimento de uma frente global que exige o fim imediato da violência, o respeito ao direito internacional e a implementação de uma solução justa e duradoura para o povo palestino.