# A Marcha das Mulheres Negras retorna a Brasília dez anos depois com expectativas de mobilização histórica
Depois de uma década, a Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver retorna a Brasília nesta terça-feira, 25 de novembro, reafirmando-se como resposta ao aprofundamento das desigualdades e símbolo de luta coletiva pelo direito à existência com dignidade. O evento, que acontece simultaneamente com o Dia da Mulher Negra, promete reunir mulheres de todos os estados brasileiros e representantes de mais de 40 países, superando a mobilização de 2015, quando mais de 100 mil pessoas participaram da primeira edição.
A expectativa de participação é massiva. De São Paulo saem pelo menos 13 caravanas rumo à capital federal, com mais de 350 mulheres da delegação paulista. As caravanas vêm sendo organizadas desde agosto do ano passado, em um trabalho coletivo que envolve diversos movimentos e instituições. A organização enfatiza que a marcha não surge do pensamento isolado de uma pessoa, mas de um conjunto de mulheres que pensam toda a estrutura globalmente. Um dos grandes desafios permanece garantir recursos para levar as participantes até Brasília, considerando que muitas são trabalhadoras, mães solo e enfrentam dificuldades para se ausentar durante a semana de trabalho.
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, emocionou-se na segunda-feira ao lembrar a luta de sua irmã, a vereadora Marielle Franco, assassinada em março de 2018. “Há 10 anos, eu me lembro da minha mãe e da minha irmã, comentando, se aprontando para a marcha. Hoje eu fico pensando onde ela estaria. Certamente estaria na marcha conosco hoje”, declarou a ministra. O ato também significa honrar a memória de outras lideranças que perderam a vida durante a luta, como a mãe Bernadette, liderança quilombola assassinada em agosto de 2023.
As demandas que mobilizam as mulheres negras incluem o fim do feminicídio e garantia das vidas, investigação de todos os casos de violência doméstica e assassinatos com punição dos culpados, fim do racismo e sexismo nos meios de comunicação, combate às práticas racistas e sexistas no mercado de trabalho, acesso à saúde pública de qualidade com punição à discriminação racial e sexual, titulação e garantia das terras quilombolas, respeito à liberdade religiosa e preservação das práticas culturais de matriz africana, além da participação efetiva das mulheres negras na vida pública.
A segurança pública emerge como prioridade central. Anielle Franco recordou as 122 mortes ocorridas no Rio de Janeiro durante a Operação Contenção, destacando que mães do Complexo do Alemão e da Penha estarão presentes na marcha. Além da segurança, a ministra enfatizou que temas de educação, saúde, cultura e lazer devem fazer parte das reivindicações das manifestantes. A ministra ressaltou que a expectativa é que as pessoas escutem o amor, o apelo e a luta das mulheres negras.
A marcha simboliza não apenas o protesto, mas também a afirmação de existência. Como expressa uma das organizadoras, o evento representa a luta de mulheres negras organizadas pelo direito à existência com dignidade, fundamentada na compreensão de quem são porque sabem de onde vieram e para onde voltarão. Este retorno a Brasília marca um novo ciclo de mobilização que se projeta para a próxima década, com presença internacional reforçando o caráter global das reivindicações por reparação histórica e bem viver.

