Desde a manhã desta sexta-feira, 7 de novembro, a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) recebe familiares, políticos e amigos do ex-deputado Paulo Frateschi, morto na tarde anterior, vítima de agressões a facadas desferidas por seu próprio filho, Francisco Frateschi, no bairro da Lapa, zona oeste de São Paulo. O clima no velório oscilou entre o luto e a homenagem, com uma cerimônia repleta de discursos emocionados e lembranças da trajetória de Frateschi, marcada pela defesa da democracia e da justiça social.
Às 14h, um cortejo deixou a Alesp rumo ao Cemitério Memorial Parque Jaraguá, onde o sepultamento estava marcado para as 15h30. Entre as lideranças presentes, destacaram-se o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que veio especialmente de Belém, sede da COP30, para prestar homenagens. Visivelmente emocionado, Haddad relembrou a amizade de mais de quatro décadas e destacou o papel de Frateschi como um dos grandes construtores da história recente do país. “O Paulo Frateschi era uma figura excepcional. Um amigo assim, sem sombra de dúvida, uma das pessoas mais queridas no PT por seus gestos, pela sua postura, pela amizade, pela sua generosidade, uma das pessoas mais adoráveis que a gente tinha”, disse Haddad.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, impossibilitado de comparecer, enviou uma mensagem lida pelo irmão de Paulo, o ator Celso Frateschi. Além de Haddad, participaram do velório nomes como Ivan Valente, José Dirceu, José Genoíno, Rui Falcão, Adriano Diogo, Eduardo Suplicy e o escritor Fernando Morais. O presidente nacional do PT, Edinho Silva, reforçou o papel de liderança de Frateschi na construção do partido e do país, lembrando que ele dedicou a vida a um projeto de Brasil mais justo e humano.
O episódio que vitimou Paulo Frateschi provocou dor e perplexidade entre seus pares e amigos. O filho, Francisco, foi detido pela Polícia Militar logo após o crime. A família, que se dividia entre São Paulo e Paraty, estava na capital paulista para buscar internação para Francisco, que vivia episódios psicóticos após um acidente. Segundo relatos da família, ele enfrentava graves problemas psicológicos e não tinha consciência do ato que cometeu. “O Francisco Frateschi é um menino maravilhoso. O Chico nunca levantou a voz para uma pessoa, ele nunca bateu em uma pessoa. Por onde o Chico passou, levou alegria, levou amor, ele tinha um carinho imensurável pelo pai”, disse Yara Frateschi, filha do ex-deputado, durante o velório. “O Chico sofreu um acidente há alguns anos. E ele foi um menino muito machucado, que perdeu os dois irmãos mais novos em acidentes e, por uma coisa inacreditável, ele também sofreu um acidente há alguns anos. O que o Chico teve foi uma doença, ele está doente, ele não sabe o que fez. É uma doença psíquica e a gente precisa saber lidar com isso. Ele não é um monstro, o que não significa que a gente não esteja sofrendo uma dor imensa”, completou.
Paulo Frateschi deixa esposa, filhas, netos e irmãos. “Meu pai foi um lutador, um guerreiro, alguém que passou a vida lutando por esse país e pela democracia brasileira. Ele merece ser tratado com amor, com respeito nesse momento”, acrescentou Yara.
A trajetória de Frateschi no PT é reconhecida por todos os presentes. Militante desde a juventude, foi preso e torturado pela ditadura militar em 1969, aos 19 anos, quando integrava a Ação Libertadora Nacional (ALN). Foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores e participou da história do partido como presidente estadual e dirigente nacional. No parlamento, ocupou mandato como deputado estadual na Alesp entre 1983 e 1987 e, posteriormente, foi secretário municipal de Relações Governamentais nas gestões de Marta Suplicy e de Fernando Haddad, na prefeitura de São Paulo.
A morte de Paulo Frateschi abalou o PT, que, em nota oficial, lamentou a perda do “dedicado militante, companheiro e dirigente histórico do partido”. Sua trajetória, marcada pela coragem, integridade e compromisso com a justiça social, será lembrada como parte fundamental da história recente do país.

