Home / Brasil e Mundo / Famílias de mortos em operação no Rio reclamam de falta de informação

Famílias de mortos em operação no Rio reclamam de falta de informação

Familiares das vítimas da Operação Contenção, realizada nos complexos do Alemão e da Penha no Rio de Janeiro, enfrentam grande sofrimento diante da demora na liberação dos corpos e da falta de informações claras. A operação, realizada com 2,5 mil policiais e considerada a maior e mais letal dos últimos 15 anos no estado, resultou em 121 mortos, incluindo quatro policiais, número que pode ainda aumentar segundo organizações da sociedade civil. O Instituto Médico Legal (IML) da capital está exclusivamente dedicado ao trabalho de perícia e identificação das vítimas, um processo lento devido à quantidade e complexidade do caso. Os familiares foram cadastrados para atendimento em um posto do Detran próximo ao IML, onde buscam notícias sobre seus entes queridos.

O drama das famílias é intenso. Samuel Peçanha procura há dois dias por seu filho Michel, de 14 anos, que estava no baile funk na comunidade da Penha e desapareceu após a operação. Ele relata a angústia da falta de informações e o relato de moradores sobre corpos terem sido deixados na mata. De maneira semelhante, Lívia de Oliveira espera pela liberação do corpo do marido, Douglas, há dias e lamenta o sofrimento da família diante da demora para identificação. O caso mais emblemático que escancara o horror da operação é o de Yago Ravel, de 19 anos, encontrado decapitado, com a cabeça sobre uma árvore, situação que só pôde ser oficialmente reconhecida após a intervenção de deputados federais e estaduais. O pai de Yago, Alex Rosário da Costa, protesta por não ter tido direito constitucional ao reconhecimento do corpo antes da assinatura do atestado de óbito.

O secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Victor Santos, informou que foi formada uma força-tarefa no IML para acelerar as identificações, utilizando métodos como reconhecimento por parentes, papiloscopia, DNA e radiografia. Até o momento, cem dos 121 mortos já foram identificados, porém os nomes não foram divulgados publicamente, pois a operação ainda faz parte de uma investigação em curso. Os corpos de sessenta pessoas já foram liberados para sepultamento. A demora e a falta de transparência têm gerado cobranças de parlamentares, que pedem o direito das famílias de ver e reconhecer os corpos e a divulgação integral dos nomes das vítimas. O secretário de Polícia Civil ressaltou que a lista será divulgada “no momento oportuno” e acrescentou que a identificação de corpos de pessoas de outros estados demanda contato com as polícias técnicas desses locais, o que prolonga o processo.

O impacto social da Operação Contenção tem sido duramente criticado por entidades como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), que repudia a ação policial pela elevada letalidade e pelos prejuízos à população civil, chamando atenção para a transformação das comunidades em zonas de guerra. A CUT cobra investigação independente, transparência e políticas de segurança pública que valorizem a vida e os direitos humanos. Paralelamente, a Comissão de Direitos Humanos do Senado anunciará investigação sobre a operação para apurar as circunstâncias e responsabilidades.

A operação que deixou dezenas de corpos expostos na mata, com relatos de execuções sumárias como a de jovens espancados, executados e mutilados, trouxe à tona um cenário de violência extrema e dor irreparável para as famílias, que seguem lutando para obter respostas, respeito e justiça diante do que muitos definem como uma verdadeira carnificina.

Fonte: Agência Brasil – Matéria Original (Clique para ler)