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Fome é irmã da guerra e inimiga da democracia, diz Lula

Em meio às celebrações dos 80 anos da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou na abertura do Fórum Mundial da Alimentação, em Roma, e fez um alerta contundente: a fome, segundo ele, é irmã da guerra — seja essa guerra travada com armas, bombas, tarifas ou subsídios. Em tom de urgência, Lula lembrou que conflitos violentos, além da dor humana que causam, desorganizam cadeias produtivas e de insumos essenciais à alimentação. De acordo com o presidente, barreiras protecionistas e políticas de países ricos contribuem para desestruturar a produção agrícola no mundo em desenvolvimento, agravando o problema onde ele já é mais cruel.

O presidente brasileiro chamou a atenção para o fato de que, mesmo com a fome sendo uma tragédia evitável, ela ainda afeta 673 milhões de pessoas no mundo. Lula destacou que a terra produz comida suficiente para alimentar uma vez e meia toda a população global. Ainda assim, milhões vão dormir com fome porque o acesso à comida continua sendo, segundo ele, um recurso de poder. “Não há como dissociar a fome das desigualdades que dividem ricos e pobres, homens e mulheres, nações desenvolvidas e nações em desenvolvimento”, afirmou.

Nesse contexto, Lula ressaltou a importância histórica da FAO e do multilateralismo. Para o presidente, o mundo seria pior sem organizações multilaterais, que buscam garantir direitos como o da alimentação. Ele lembrou que o Brasil faz parte dessa história e que, recentemente, o país recuperou conquistas importantes. O presidente comemorou o anúncio da FAO de que o Brasil saiu do Mapa da Fome e que, em 2024, o país alcançou a menor proporção de domicílios com insegurança alimentar grave de sua história — incluindo lares com crianças menores de cinco anos. “Estamos interrompendo o ciclo de exclusão”, disse Lula, ao propor que o combate à fome seja uma política de Estado, independente de mudanças de governo.

No discurso, o presidente brasileiro também criticou a paralisia da Organização Mundial do Comércio e o abandono das regras e instituições multilaterais, o que, para ele, leva à sintonia dos países com a tragédia da fome. “Da tragédia em Gaza à paralisia da OMC, a fome tornou-se sintonia do abandono das regras e das instituições multilaterais”, disse. Para Lula, um país soberano é aquele que garante a alimentação de seu povo, e a fome é inimiga da democracia e do pleno exercício da cidadania.

Em um chamado final aos líderes presentes, Lula afirmou que erradicar a fome exige vontade política. “A fome não é um problema econômico, é um problema político. Se houver interesse dos governantes, encontrará um jeito de colocar o café da manhã, o almoço e o jantar para o povo pobre do mundo inteiro.” O presidente defendeu que os orçamentos nacionais sejam feitos com os mais vulneráveis em mente, pois, segundo ele, “o pobre não pode ser tratado como invisível”. O desafio, na visão de Lula, não está na escassez de alimentos, mas na distribuição e no reconhecimento do direito de todos à mesa farta.

É nesse sentido que o presidente brasileiro fecha sua participação com um recado direto aos seus pares: enquanto houver fome, a necessidade de organizações como a FAO será inquestionável, e o compromisso de governantes deve ser proporcional à dimensão do problema. Ele encerra lembrando da máxima do brasileiro Josué de Castro: “metade da humanidade não come; e a outra metade não dorme, com medo da que não come”. A mensagem ficou clara: alimentar o mundo é questão de prioridade e não de impossibilidade.

Fonte: Agência Brasil – Matéria Original (Clique para ler)