Os conflitos agrários no Cerrado, especialmente no Maranhão, são intensificados pela lentidão do Judiciário, pela autorização estatal para desmate em áreas ainda em disputa, e pela dificuldade dos povos e comunidades tradicionais de acessarem a Justiça. Em Balsas, município que é um dos maiores desmatadores do país e epicentro do agronegócio, agricultores familiares enfrentam ameaças, pulverização aérea de agrotóxicos e assédio financeiro. Muitas dessas famílias possuem poucos recursos para contratar advogados e dependem da Defensoria Pública ou de assessoria jurídica popular, enquanto vivem em áreas de difícil acesso, o que dificulta ainda mais o contato com instituições do Estado.
A presidente da Associação Camponesa do Maranhão, Francisca Vieira Paz, destaca a omissão do Estado e a violência não combatida no campo, o que deixa os movimentos sociais e pastorais como a “última barreira de proteção” para esses povos que defendem o que resta do Cerrado. As disputas fundiárias, em muitos casos, envolvem grileiros que pressionam famílias tradicionais a aceitarem redução de suas áreas ou a deixarem suas terras para dar lugar a grandes monoculturas como soja.
Apesar dos esforços recentes do governo estadual, que lançou o Programa Paz no Campo e já entregou milhares de títulos de propriedade regularizando terras e comunidades quilombolas, os conflitos persistem. O governo também promove ações para combater a grilagem, com retomada e cancelamento de matrícula de grandes áreas irregulares, mas o avanço do agronegócio acompanhado de desmatamento ilegal ainda gera tensão e insegurança para as populações locais.
O Maranhão registrou uma redução histórica do desmatamento no Cerrado em 2025, com queda de 34% em relação ao período anterior, resultado do monitoramento rigoroso e de programas como Floresta Viva e Maranhão Sem Queimadas. Mesmo assim, a devastação do bioma segue elevada, e o estado é responsável por grande parte do desmatamento do Cerrado brasileiro, o que contribui para problemas ambientais e sociais graves, como o aumento da emissão de CO2 e a perda da biodiversidade.
Além dos impactos ambientais, a expansão da fronteira agrícola tem causado um alto custo social no Maranhão, onde comunidades indígenas, quilombolas e outras tradicionais têm seus territórios e modos de vida ameaçados. Autorizações para supressão de vegetação são liberadas em áreas protegidas, sacrificando unidades de conservação e reservas legais, o que reforça a sensação de abandono institucional entre os moradores do Cerrado.
Em audiências públicas locais, representantes das comunidades afirmam a urgência de políticas públicas eficazes, fiscalização rigorosa e cumprimento das leis ambientais para garantir a proteção do bioma e a sobrevivência das populações tradicionais. Eles ressaltam que o Cerrado é seu lar e meio de sustento, e que a perda dessas áreas coloca em risco não apenas a biodiversidade, mas a segurança hídrica, alimentar e econômica do Brasil.

