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Fronteira Cerrado: ativistas pedem mesma prioridade dada à Amazônia

Enquanto o mundo se prepara para a 30ª Conferência da ONU para Mudanças Climáticas (COP30), marcada para ocorrer em Belém (PA), um movimento crescente de ativistas, cientistas e ambientalistas destaca a necessidade de reconhecer o Cerrado com a mesma importância política e ambiental dada à Floresta Amazônica. Conhecido como o “berço das águas”, o Cerrado abriga as nascentes de oito das doze principais bacias hidrográficas brasileiras, desempenhando um papel fundamental na manutenção dos recursos hídricos do país.

Pesquisas recentes reforçam que o Cerrado é central no enfrentamento das mudanças climáticas, em grande parte devido ao seu potencial de armazenamento e renovação de água, um recurso cada vez mais escasso em meio às secas prolongadas decorrentes do aquecimento global. Estima-se que cerca de 40% da água potável do Brasil tenha origem nesse bioma. Além disso, a vegetação típica do Cerrado atua como uma esponja natural, com raízes que podem atingir até 15 metros de profundidade, capazes de levar a água da chuva para os vastos aquíferos subterrâneos, como os aquíferos Guarani, Bambuí e Urucuia, que abastecem grande parte do país.

No entanto, o avanço do desmatamento, impulsionado principalmente pela expansão do agronegócio, tem causado uma redução significativa nas vazões dos rios do Cerrado. Estudos realizados entre 1970 e 2021 mostram que nas seis principais bacias hidrográficas do bioma houve uma perda de 27% da vazão mínima, o equivalente a 30 piscinas olímpicas de água por minuto. Essa degradação não afeta apenas o meio ambiente, mas também ameaça a segurança hídrica, energética e alimentar do Brasil, com riscos de racionamentos, elevação nos preços dos alimentos e da energia, além da redução da produtividade agrícola.

O bioma ocupa cerca de 23,3% do território nacional e possui uma biodiversidade única, abrigando aproximadamente 25 milhões de pessoas, incluindo diversas comunidades indígenas e quilombolas. A importância do Cerrado vai além das águas; ele armazena uma grande quantidade de dióxido de carbono, ajudando a mitigar os efeitos do aquecimento global. Porém, o desmatamento não só reduz sua capacidade hídrica como também libera carbono estocado no solo e na vegetação, ampliando o problema das emissões de gases do efeito estufa.

À medida que se aproxima a COP30, cresce a pressão para que o Cerrado tenha visibilidade nas agendas climáticas nacionais e internacionais, com propostas para que sua conservação seja incorporada às políticas públicas de maneira mais firme, garantindo o desenvolvimento sustentável da região. O desafio é grande, pois a fronteira agrícola no Cerrado, especialmente em locais como Balsas (MA), mescla crescimento econômico com altas taxas de desmatamento, um dilema que deve ser debatido com urgência na conferência.

O reconhecimento do Cerrado como bioma estratégico no fornecimento de água e na regulação do clima é fundamental para garantir a sustentabilidade do Brasil a médio e longo prazo. As consequências de sua degradação vão muito além do bioma, afetando diretamente a subsistência das populações, a agricultura, a geração de energia hidrelétrica e a biodiversidade em escala continental. Assim, proteger o Cerrado passa a ser também uma questão de segurança nacional e de compromisso global com o combate às mudanças climáticas.

Fonte: Agência Brasil – Matéria Original (Clique para ler)