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Fronteira Cerrado: o agronegócio entre desenvolvimento e destruição

O agronegócio no Brasil é considerado o principal motor do crescimento econômico do país, impulsionando o desenvolvimento e a geração de renda. No entanto, essa atividade econômica tem sido objeto de críticas severas devido ao seu papel na concentração de terras e renda, além dos impactos ambientais significativos que causa, especialmente em biomas sensíveis como o Cerrado. Este bioma, conhecido como “berço das águas” por abrigar as nascentes de oito das doze principais bacias hidrográficas brasileiras, vem sofrendo um forte avanço do desmatamento, que ameaça a segurança hídrica nacional ao reduzir o volume dos rios e comprometer a disponibilidade de água para consumo humano, agricultura e geração de energia.

Pesquisadores, ambientalistas e movimentos sociais alertam que a perda do Cerrado acarreta graves consequências para a biodiversidade, o clima e as populações tradicionais que dependem diretamente do bioma para sua sobrevivência. O desmatamento intenso fragmenta habitats, ameaça espécies endêmicas e eleva significativamente as emissões de gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono. Estimativas recentes indicam que entre janeiro de 2023 e julho de 2024, o desmatamento do Cerrado gerou mais de 135 milhões de toneladas de CO2, volume 1,5 vez maior que o total anual emitido pela indústria nacional, impactando de forma expressiva no quadro climático do país.

Além dos prejuízos ambientais, o Tribunal Permanente dos Povos (TPP), que agrega mais de 50 movimentos sociais, denunciou a destruição do Cerrado como um ecocídio, responsabilizando não apenas o Estado brasileiro, mas também agentes nacionais e estrangeiros e empresas, pela degradação do bioma e o deslocamento violento de povos tradicionais, caracterizando, segundo o tribunal, um genocídio socioambiental. O veredito do júri reconheceu a responsabilidade objetiva e compartilhada desses atores na devastação ambiental e social.

Dados oficiais mostram, entretanto, que o Brasil tem conseguido uma redução expressiva nas taxas de desmatamento tanto na Amazônia quanto no Cerrado, resultado do reforço de políticas públicas e mecanismos de fiscalização ambiental. No período entre agosto de 2024 e julho de 2025, o desmatamento no Cerrado caiu cerca de 11,5%, para uma área de 7.235 km², consolidando um segundo ano consecutivo de declínio após um período longo de altas taxas descontroladas. Essa diminuição é atribuída à retomada dos planos de combate ao desmatamento pelo governo federal, como o PPCDAm e o PPCerrado, que têm promovido uma maior articulação entre ciência, monitoramento satelital e ações de campo.

Apesar desses avanços, o desmatamento persiste de forma concentrada na região conhecida como Matopiba – que engloba os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia –, responsáveis por 78% da vegetação suprimida do bioma, o que torna esses estados os principais focos da continuidade do problema. A ministra do Meio Ambiente destacou que os resultados demonstram o compromisso do governo com a meta de zerar o desmatamento até 2030, reforçando a importância da agenda ambiental para o enfrentamento das mudanças climáticas, que já causam eventos extremos que afetam diretamente a população brasileira.

O Cerrado vive, entretanto, seu momento mais difícil desde o início da expansão agropecuária na década de 1970. Estudos indicam que a temperatura do bioma subiu entre 2,2°C e 4,0°C nas últimas décadas, enquanto a precipitação caiu cerca de 15%, alterações que se refletem na evapotranspiração e no ciclo hidrológico regional. Essa mudança climática acelerada é, em parte, resultado direto da remoção da vegetação nativa e tem impactos negativos para a biodiversidade local e para a produtividade do próprio agronegócio.

Portanto, o desafio colocado ao Brasil é equilibrar a manutenção do agronegócio como motor econômico com a necessidade urgente de preservar o Cerrado, garantindo assim a segurança hídrica, a conservação da biodiversidade e o respeito aos direitos das comunidades tradicionais. Políticas públicas eficazes, monitoramento tecnológico e compromisso do setor privado são essenciais para garantir uma trajetória sustentável que evite um colapso ambiental irreversível e preserve o modo de vida de milhões de brasileiros.

Fonte: Agência Brasil – Matéria Original (Clique para ler)