Hacker revela suposto plano de falsificação de invasão de urnas eletrônicas na campanha de Bolsonaro

O programador Walter Delgatti Neto, conhecido como hacker da Vaza Jato, disse nesta quinta-feira (17) à CPI do 8 de janeiro que a campanha do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) planejou forjar a invasão de uma urna eletrônica durante as celebrações do 7 de Setembro de 2022, menos de 1 mês antes da eleição.

Delgatti foi preso novamente no começo de agosto sob suspeita de tramar, a pedido da deputada, contra Moraes. O hacker confessou, em junho, que invadiu os sistemas do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e inseriu um mandado de prisão falso contra Moraes assinado pelo próprio ministro. Ele também disse que recebeu um pedido de Zambelli, no ano passado, para invadir uma urna eletrônica.

Na sessão desta quinta-feira (17) na CPI, ele disse que invadiu os sistemas do CNJ e de tribunais de todos os estados. “Tive acesso a todas as senhas de juízes e servidores, fiquei quatro meses na intranet do CNJ e de tribunais”.

O hacker afirmou que o objetivo era demonstrar a fragilidade do sistema eleitoral brasileiro, tese levantada, sem provas, pelo ex-presidente e seus apoiadores. Ele disse que o entorno do ex-presidente queria o transformar em “garoto propaganda” da campanha eleitoral de Bolsonaro.

“Eu era o hacker da Lava Jato, seria difícil a esquerda questionar a autoria [do grampo]”, afirmou o hacker.

Delgatti afirmou que conheceu Zambelli por acaso e trocou contatos com a deputada. Depois, ele disse que teria sido chamado pela deputada e que recebeu proposta de trabalhar na campanha de Bolsonaro.

Ele afirma que se reuniu no dia 9 de agosto com integrantes da campanha de Bolsonaro, incluindo Valdemar Costa Neto, presidente do PL.

Na tarde do mesmo dia ele diz ter participado de outra reunião com a campanha, mas em Valdemar. Neste segundo encontro teria sido elaborado o plano de forjar uma invasão de urna no 7 de Setembro.

No ano passado, o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, tinha enviado um pedido ao TSE já no início de agosto para realizar a análise do código-fonte entre os dias 2 a 12 de agosto. A inspeção do programa, solicitada com carimbo de urgentíssimo, estava disponível desde outubro do ano anterior.

Delgatti disse à CPI que, a pedido de Bolsonaro, participou de reuniões com a cúpula das Forças Armadas.

Ele disse que esteve cinco vezes no Ministério da Defesa e que chegou a se reunir com o ex-ministro Paulo Sérgio Nogueira. Afirmou ainda que colaborou com o relatório apresentado em novembro pela pasta sobre as eleições.

Delgatti disse que manteve contato com a “cúpula de TI” das Forças Armadas, e que os técnicos usavam nomes fictícios para se comunicar, como “carro” e “caminhão”.

O programador disse que falou por mensagens de celular com com o general Freire Gomes, ex-comandante do Exército, por mensagem de celular.

Segundo o hacker, Bolsonaro falou que o resultado das eleições poderia causar uma “ruptura” no país. “Ele falava que eu precisava fazer isso pela liberdade do povo, ele tinha aquela manipulação, ele falava ‘senão o resultado será a ruptura, e será ruim para todos nós”‘. Ele fazia uma equiparação à Venezuela”, afirmou Delgatti sobre a conversa com o ex-presidente no Palácio da Alvorada.

O advogado de Zambelli, Daniel Bialski, divulgou nota nesta quinta-feira afirmando que Delgatti “usa e abusa de fantasias em suas palavras”. Ele negou participação da deputada em irregularidades.

“Suas versões mudam com os dias, suas distorções e invenções são recheadas de mentiras, bastando notar que a cada versão, ele modifica os fatos, o que é só mais um sintoma de que a sua palavra é totalmente despida de idoneidade e credibilidade”, disse Bialski. O advogado disse que a defesa de Zambelli ainda não teve acesso aos autos da investigação.