O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) de Honduras retomou a contagem manual dos votos da eleição presidencial do país após três dias de suspensão, em meio a uma disputa acirrada entre o candidato conservador Nasry Tito Asfura, apoiado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o centrista Salvador Nasralla, com uma diferença de apenas 19 mil votos. A presidente do CNE, Ana Paula Hall, informou que a atualização dos dados ocorre após ações técnicas e uma auditoria externa. A apuração mostra Asfura com 40,2% dos votos e Nasralla com 39,5%, enquanto a governista Rixi Moncada, do partido de esquerda Libre, aparece em terceiro lugar com cerca de 19%.
A eleição tem sido marcada por intensa interferência externa, principalmente dos Estados Unidos. Donald Trump, sem apresentar provas, acusou o CNE de tentar alterar os resultados e ameaçou, dizendo que “haverá consequências terríveis” se isso ocorrer. Além disso, Trump concedeu um indulto polêmico ao ex-presidente hondurenho Juan Orlando Hernández, condenado nos EUA a 45 anos de prisão por crimes relacionados ao narcotráfico, que é do mesmo partido de Asfura, o Partido Nacional. A atitude do presidente americano gerou forte reação do partido governista Libre, que pediu a anulação total do pleito, denunciando ingerência e coação, além de acusar Trump e a oligarquia local de pressionarem a população por meio de mensagens digitais para votar no candidato apoiado pelos EUA, sob ameaça de corte das remessas enviadas por trabalhadores hondurenhos no exterior.
No cenário político hondurenho, a eleição é decisiva, já que não há segundo turno e vence quem obter a maioria simples dos votos. A contagem manual, baseada em cédulas de papel, é um processo tradicional no país, mas tem sido dificultada pela paralisação e acusação de falhas técnicas que atrasam a divulgação dos resultados.
Para analistas internacionais, como Gustavo Menon, professor de relações internacionais da Universidade Católica de Brasília, a interferência de Trump reflete o reposicionamento dos EUA na América Latina, visando conter a influência crescente da China na região e garantir candidatos alinhados aos seus valores e políticas conservadoras. Asfura, por sua vez, tem uma agenda mais próxima da administração americana, especialmente na questão da imigração, enquanto Nasralla representa posições mais liberais, potencialmente mais alinhadas a interesses chineses.
O clima político em Honduras permanece tenso e incerto, com denúncias de interferência externa, ameaças aos processos democráticos e uma disputa acirrada que mantém o país em estado de expectativa até a conclusão definitiva da contagem dos votos.

