O Brasil é um país marcado por tradições familiares que se refletem diretamente nos nomes de seus habitantes. Pela primeira vez, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga dados detalhados sobre os sobrenomes mais comuns entre os brasileiros, além de atualizar o levantamento dos nomes próprios, consolidando um retrato inédito da identidade nacional com base no Censo 2022. O resultado é uma radiografia social que revela tanto a permanência de costumes quanto mudanças importantes nos hábitos de batismo das famílias.
De todos os nomes próprios registrados no país, Maria e José seguem como os preferidos dos brasileiros. Maria é o nome feminino mais popular, presente em 12,2 milhões de mulheres — ou seja, cerca de 6% da população brasileira é composta por Marias. Em algumas cidades do interior do Ceará, como Morrinhos e Bela Cruz, o fenômeno é ainda mais intenso: mais de 22% da população local responde por esse nome. José, por sua vez, lidera entre os homens, com mais de 5 milhões de pessoas. O pico de nascimento de Marias foi registrado entre 1960 e 1969, quando 2,5 milhões de recém-nascidas receberam o nome. Já entre 2020 e 2022, o número caiu para 517 mil, sinalizando uma mudança de hábito nas últimas décadas.
Ao lado das Marias e Josés, destacam-se Ana, João, Antônio e Francisco entre os nomes mais comuns, demonstrando a influência histórica da formação cultural e religiosa do país. Mas também chama atenção a ascensão de nomes como Gael, Ravi e Valentina, que tiveram crescimento expressivo após 2010. Se na primeira década do século havia pouco mais de 700 Gaels no Brasil, nos últimos dois anos foram registrados quase 100 mil nascimentos com esse nome, mostrando como as tendências globais e modernas têm contaminado o horizonte dos registros nacionais.
No campo dos sobrenomes, o predomínio é ainda mais acentuado. Silva lidera com folga: 34 milhões de brasileiros o carregam, o equivalente a 17% da população. A origem do sobrenome está ligada à palavra latina para “selva” ou “floresta”, e sua ampla adoção se explica tanto por motivos históricos quanto geográficos, já que era comum entre pessoas provenientes de áreas de vegetação densa. Em algumas cidades de Pernambuco e Alagoas, mais de 60% da população vive sob o sobrenome Silva, enquanto no estado do Sergipe, o destaque vai para Santos, presente em mais de 43% dos habitantes.
Santos aparece como o segundo sobrenome mais comum, com 21,4 milhões de pessoas, seguido por Oliveira, Souza, Pereira, Ferreira e Lima. Esses nomes revelam a influência portuguesa, do catolicismo e da própria estrutura social que se consolidou ao longo dos séculos de colonização e imigração. O levantamento do IBGE identificou mais de 140 mil nomes próprios e 200 mil sobrenomes no país, evidenciando a mistura de tradição e pluralidade, mesmo com a concentração em poucos grandes grupos.
A ferramenta interativa “Nomes do Brasil”, disponibilizada pelo IBGE, permite que qualquer pessoa busque a ocorrência, a distribuição geográfica, a faixa etária e o período de nascimento de nomes e sobrenomes no país. O sistema já é capaz de revelar, por exemplo, que o nome Ana é hegemônico em Santana do Acaraú, também no Ceará, onde um em cada dez moradores recebeu o nome.
O mapa dos nomes brasileiros, portanto, mostra tanto a força de tradições seculares quanto o surgimento de novas tendências, marcando a identidade de um país que, cada vez mais, mescla o antigo e o novo, o global e o local. O que permanece é a certeza de que, em qualquer esquina, é grande a chance de se cruzar com um Silva ou com uma Maria, carregando consigo séculos de história em poucas letras — mas também de mudar de rumo com um Gael ou uma Valentina, abrindo espaço para o Brasil do futuro.

