Levitsky, autor de “Como as democracias morrem” diz que reconhecimento da derrota de Bolsonaro por aliados faz total diferença

Até o momento em que esse texto foi escrito, Bolsonaro ainda não se pronunciou quanto a derrota eleitoral para Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o silêncio impera no Palácio da Alvorada, residência oficial do Presidente da República. O Brasil encerrou o pleito em condição muito melhor do que os Estados Unidos no desfecho da disputa entre Joe Biden e Donald Trump, em 2020. É o que argumenta o cientista político da Universidade Harvard Steven Levitsky, autor do best-seller Como as democracias morrem.

Apesar dos inúmeros paralelos entre a história brasileira e a americana, Levitsky nota uma evidente diferença não apenas entre o que fizeram os presidente derrotados Bolsonaro e Trump, mas entre o modo como seus aliados se posicionaram.

Nos EUA, Trump foi à TV na noite da eleição para dizer que tinha vencido o pleito e que havia uma fraude – discurso que repetiria por dois meses e que desaguaria na tentativa de invasão do Capitólio, em 6 de janeiro. Enquanto isso, diz Levitsky, nenhum dos aliados ou lideranças do Partido Republicano se levantara contra as ações de Trump.

Já no Brasil, Bolsonaro não disse nada, apenas se recolheu. Já seus aliados vieram a público reconhecer a derrota. “Ao presidente eleito, a Câmara dos Deputados já deu os parabéns e a reafirma seu compromisso com o Brasil”, afirmou o presidente da Câmara e um dos principais aliados de Bolsonaro, Arthur Lira, que completou: “É hora de desarmar os espíritos e estender as mãos aos adversários, debater e construir pontes”.

Já o deputado mais votado do país, o bolsonarista Nikolas Ferreira, gravou vídeo aos seus seguidores em que dizia que “hoje não elegemos um presidente de direita, talvez amanhã. Mas a luta continua”. Assim como Ferreira, os deputados Ricardo Salles e Carla Zambelli e o senador Sergio Moro também prometeram ser oposição, reconhecendo a legitimidade da eleição de Lula.

Segundo Levitsky, ao agirem assim, os líderes da direita no Brasil estão dando uma espécie de “vacina” contra uma possível tentativa de ruptura democrática.

As manifestações dos aliados acontecem após meses de acusações infundadas do atual presidente brasileiro sobre fraudes nas urnas eletrônicas e parcialidade do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Reiteradas vezes, Bolsonaro afirmou que não aceitaria o resultado das urnas se fosse derrotado e espalhou o temor de que as cenas de insurreição dos trumpistas no Congresso dos EUA pudessem ser repetidas no Brasil.