Ao final de uma visita de três dias à Faixa de Gaza, iniciada em 19 de dezembro, o cardeal Pierbattista Pizzaballa, Patriarca Latino de Jerusalém e principal autoridade católica em Israel, Palestina, Jordânia e Chipre, destacou a resiliência da população local apesar da devastação causada por anos de guerra. Em entrevista a veículos de mídia do Vaticano, o religioso descreveu uma sociedade extenuada pela pobreza extrema, falta de infraestrutura básica, esgoto e lixo acumulados, com casas, escolas e hospitais necessitando de reconstrução urgente.
Apesar das condições miseráveis, Pizzaballa observou sinais de esperança em encontros com homens, mulheres e crianças, que demonstram forte vontade de retomar a normalidade e reconstruir o futuro. Acompanhado pelo vicário William Shomali e uma pequena delegação, o cardeal visitou instituições como a Igreja Ortodoxa Grega de Santo Porfírio, hospitais como Al-Ahli e o anglicano, clínicas da União de Igrejas, a Universidade de Al-Azhar e pontos de distribuição de ajuda humanitária, incluindo a Cáritas Gaza e tendas de famílias desabrigadas.
Momentos de alegria marcaram a viagem, especialmente entre as crianças, com a encenação de um presépio vivo que trouxe serenidade aos olhares dos pequenos e emocionou os presentes. O Natal em Gaza é celebrado de forma simples, sem grandes festividades além da liturgia, mas com um sentimento genuíno de alegria, incluindo o batismo de um bebê como símbolo de nova vida e esperança. Pizzaballa enfatizou que a comunidade cristã, reduzida a cerca de 600 fiéis na Paróquia da Sagrada Família, mantém raízes profundas no local e pretende permanecer como ponto de referência em meio à destruição.
O cardeal diferenciou a ausência de apoio político da presença solidária da sociedade civil internacional, que não abandonou os gazenses. Em homilia na Sagrada Família, ele conclamou a levar o espírito natalino de luz, ternura e amor para reconstruir não só estruturas, mas corações, unindo católicos, anglicanos e ortodoxos. Sobre a paz, afirmou que ela exige condições reais e estáveis, além de discursos, e alertou para a gravidade econômica: embora a escassez de alimentos tenha diminuído, poucos têm dinheiro para comprá-los, com muitas crianças vivendo nas ruas.
Dirigindo-se aos cristãos, Pizzaballa recordou que Jesus entrou na história em contexto imperfeito, como o atual em Gaza, e cabe à humanidade assumir esse momento para transformá-lo, olhando para o futuro em vez de ceder ao pessimismo ou ao modo de mera sobrevivência. A visita, tradição anual interrompida apenas em 2023 pelos bombardeos, reforça a determinação de recomeçar em um território onde 80% dos edifícios permanecem danificados, apesar do alto el fuego desde outubro.
