O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou neste domingo, em Santa Marta, Colômbia, que a América Latina e o Caribe são uma região de paz que deve permanecer assim, criticando as intervenções ilegais e o uso da força militar como parte do cotidiano da região. Durante a 4ª reunião de Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e da União Europeia (UE), Lula reforçou a defesa do multilateralismo entre países e repudiou as recentes ações militares dos Estados Unidos no Mar do Caribe e no Pacífico, que têm alvejado barcos sob a alegação de combate ao narcotráfico, causando dezenas de mortes sem reconhecimento oficial das violações do direito internacional. Embora não tenha citado os EUA explicitamente, o presidente denunciou a “reciclagem de velhas manobras retóricas para justificar intervenções ilegais”, afirmando que democracias não combatem o crime violando leis internacionais.
Lula reconheceu que a América Latina e o Caribe vivem uma profunda crise de integração, tornando-se uma região dividida e mais voltada para influências externas do que para si própria. O presidente destacou ameaças como o extremismo político, a manipulação da informação e o crime organizado como desafios que dificultam avanços regionais concretos. Em sua fala, fez um chamado para maior cooperação e integração regional, classificando a Celac e a União Europeia como centrais na construção de uma ordem mundial baseada na paz, no multilateralismo e na multipolaridade.
No tema da segurança pública, Lula enfatizou que a segurança é um dever do Estado e um direito fundamental dos cidadãos, ressaltando que não existe solução mágica para o combate ao crime. Defendeu a repressão ao crime organizado, o estrangulamento do seu financiamento e o combate direto ao tráfico de armas. Também mencionou plataformas de cooperação regional, como o comando tripartite na tríplice fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai e o Centro de Cooperação Policial Internacional da Amazônia, como estratégias fundamentais para enfrentar conjuntamente desafios como o tráfico de drogas, armas e pessoas.
Além dos temas políticos e de segurança, Lula aproveitou para destacar a importância da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que começaria no dia seguinte em Belém. Enfatizou que a região tem papel crucial na conservação das florestas, especialmente da Amazônia, e citou o Fundo Florestas Tropicais para Sempre como uma iniciativa inovadora para valorizar a preservação ambiental em detrimento do desmatamento. Lula também defendeu a aceleração da transição energética rumo a fontes limpas, ressaltando que a América Latina e o Caribe são fontes confiáveis de energia limpa e podem diminuir a dependência dos combustíveis fósseis.
No campo da igualdade de gênero, o presidente pediu que uma mulher latino-americana ocupe o cargo de secretária-geral das Nações Unidas, destacando que apesar de representarem mais da metade da população mundial, as mulheres nunca exerceram essa função máxima na organização. Candidataturas como as da ex-presidente chilena Michelle Bachelet e da primeira-ministra de Barbados Mia Mottley foram citadas como possíveis nomes para essa posição.
A cúpula em Santa Marta ocorreu em um ambiente de tensões, marcado pela ofensiva dos EUA contra supostos narcotraficantes na região e pelas ausências notáveis de alguns líderes, em meio a pressões diplomáticas e receios de escalada do conflito. O anfitrião, presidente colombiano Gustavo Petro, criticou publicamente os ataques americanos e as sanções contra seu governo, enquanto Lula se posicionava como um interlocutor-chave para a busca de soluções multilaterais e a defesa da soberania regional.
Após o discurso no evento, Lula seguiu para Belém para participar da COP30, destacando a importância do compromisso ambiental da região no cenário global.
