O presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou uma reunião emergencial no Palácio da Alvorada para tratar dos desdobramentos da Operação Contenção, realizada no Rio de Janeiro na terça-feira (28), que entrou para a história como a ação policial mais letal já feita na cidade. A operação, realizada nos complexos do Alemão e da Penha, deixou mais de 130 mortos — número ainda impreciso devido à retirada de corpos em áreas de mata pelos moradores locais. O encontro, iniciado às 10h desta quarta-feira (29), contou com a presença de ministros e autoridades como o vice-presidente Geraldo Alckmin, os ministros da Justiça e Segurança Pública Ricardo Lewandowski, da Casa Civil Rui Costa, da Defesa José Múcio, além de representantes de Direitos Humanos, Igualdade Racial, da Polícia Federal e do presidente da Embratur.
A Operação Contenção tinha como objetivo conter o avanço do Comando Vermelho, facção criminosa que atua na capital fluminense e em outras regiões do estado, e cumpriu cerca de 180 mandados de busca e apreensão, além de 100 mandados de prisão, envolvendo inclusive suspeitos da facção atuando no Pará. Na ação, foram apreendidos quase 100 fuzis e toneladas de drogas, resultado de uma investigação prolongada e operação conjunta das polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro. Apesar do sucesso operacional destacado pelo governador Cláudio Castro, que considerou a ação eficaz para abalar a facção, a letalidade é alvo de controvérsia: o próprio Castro afirmou que as únicas vítimas da operação foram os quatro policiais que morreram, defendendo que os demais mortos eram criminosos que resistiram à prisão. Já especialistas alertam que operações dessa natureza tendem a agravar a violência nas comunidades, não atingindo de modo eficaz o crime organizado.
O governador Cláudio Castro reconheceu que a operação ultrapassou os limites das competências estaduais e cobrou maior apoio do governo federal. Entretanto, o ministro Lewandowski negou ter recebido pedido formal para apoio federal. O presidente Lula, que retornou na noite de terça-feira ao Brasil após viagem ao Sudeste Asiático, lidera o esforço para coordenar uma resposta integrada. Para isso, ministros da Justiça, Direitos Humanos e Igualdade Racial partiram para o Rio na tarde de quarta-feira para reunião com Castro, acompanhados do diretor-geral da Polícia Federal. Um pedido do governador para transferir 10 detentos considerados líderes da facção para presídios federais já foi atendido pela Casa Civil.
Em meio à crise, governadores de direita articularam a criação de um “gabinete paralelo” de segurança pública, perfilando uma atuação conjunta e uma política mais repressiva contra o crime organizado, com críticas ao governo federal pela suposta inércia e falta de apoio na operação. Este grupo inclui governadores como Cláudio Castro (RJ), Romeu Zema (MG), Ronaldo Caiado (GO), Tarcísio de Freitas (SP) e Jorginho Mello (SC), que discutiram estratégias e pressionam por maior autonomia aos estados no enfrentamento das facções criminosas, embora autonomia tenha sido justamente o que ensejou o recente massacre.

