O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a Jacarta, capital da Indonésia, poucas horas antes do início de uma visita de Estado marcada pela busca de uma maior presença brasileira no Sudeste Asiático e pelo aprofundamento dos laços estratégicos com países da região. Considerada a primeira viagem presidencial brasileira à Indonésia desde 2008, a missão serve também como retribuição à recente visita do presidente indonésio, Prabowo Subianto, ao Brasil, em julho deste ano, logo após a reunião do Brics no Rio de Janeiro.
O cerimonial oficial começou na manhã de 23 de outubro no Palácio Merdeka, sede do governo indonésio, com a chegada de Lula recebida pelo anfitrião Prabowo Subianto. O protocolo incluiu a execução dos hinos nacionais, apresentação das delegações, assinatura do livro de visitas e uma fotografia oficial, elementos simbólicos que marcam o início dos trabalhos da visita de Estado. O ponto central da manhã foi o encontro privado entre os dois chefes de Estado, momento destinado a tratar de temas sensíveis das relações bilaterais: expansão do comércio agrícola — o Brasil é um dos principais fornecedores de carne bovina para o país asiático —, barreiras sanitárias, investimentos em energia renovável e cooperação em defesa.
A reunião entre lideranças, ministros e assessores dos dois países seguiu na sequência, com discussões sobre novos acordos comerciais, parcerias ambientais e investimentos em infraestrutura verde. As expectativas são de assinatura de instrumentos de cooperação em áreas como ciência, tecnologia, inovação, energia, recursos minerais, medidas sanitárias, fitossanitárias e estatística. Em 2024, o intercâmbio comercial entre Brasil e Indonésia atingiu o recorde de US$ 6,3 bilhões, com saldo favorável ao Brasil de US$ 2,6 bilhões, resultado do dinamismo do setor agrícola e dos esforços diplomáticos dos últimos anos.
Do lado indonésio, interessa ampliar o acesso à tecnologia brasileira em biocombustíveis e bioenergia, áreas nas quais o Brasil tem reconhecida liderança. Já o governo brasileiro busca consolidar posições estratégicas em um mercado que reúne quase 680 milhões de consumidores, além de reforçar negociações para aumentar as exportações de proteína animal, com ênfase na obtenção de novas certificações sanitárias.
No mesmo dia, Lula cumprirá agenda com o setor privado durante o Fórum Econômico Brasil-Indonésia, que reúne lideranças empresariais de ambos os países. O objetivo é facilitar novas conexões de negócios e identificar oportunidades de investimento em setores como agropecuária, energia limpa, tecnologia e infraestrutura. Para o governo brasileiro, o fórum é um momento-chave para mostrar a capacidade produtiva brasileira e estimular parcerias que vão além das fronteiras tradicionais do Ocidente.
No segundo dia da visita, Lula se encontra com o secretário-geral da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), Kao Kim Hourn, para reforçar o papel do Brasil como o único país latino-americano com Parceria de Diálogo Setorial com o bloco. O diálogo ampliado com a Asean faz parte da estratégia de inserção do Brasil na Ásia, região que se consolida como polo dinâmico da economia global.
A agenda presidencial prossegue em direção à Malásia, onde Lula participará de reuniões multilaterais importantes, como a Cúpula da Asean e o Encontro de Líderes do Leste Asiático, além de um possível encontro ainda não confirmado com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O roteiro finaliza uma semana de intensos contatos diplomáticos, cujo objetivo é não apenas consolidar parcerias econômicas, mas também inserir o Brasil em debates estratégicos para o futuro da ordem internacional.
Essa viagem marca a sexta missão presidencial de Lula à Ásia em seu atual mandato, reiterando o interesse do Brasil em se posicionar como um interlocutor relevante no Sul Global e ampliar sua presença em mercados até então considerados secundários para a diplomacia brasileira. O resultado prático desse esforço pode ser medido não apenas pelo volume de negócios, mas pela construção de uma rede de parcerias diplomáticas que fortalecem o papel do Brasil em um cenário internacional cada vez mais multipolar.

