O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, declarou que o mundo não conseguirá manter o aquecimento global abaixo de 1,5 grau Celsius nos próximos anos, conforme anunciado durante o evento que celebrou os 75 anos da Organização Mundial de Meteorologia (OMM), em Genebra, Suíça. Apesar disso, ele ressaltou que a situação ainda não é irreversível, desde que um conjunto rigoroso de medidas seja implementado para conter as mudanças climáticas.
O aquecimento de 1,5°C acima da média da era pré-industrial, estabelecido no século 19, é considerado um limite fundamental para evitar as piores consequências das alterações climáticas, além do qual há o risco de um “ponto de não retorno”. Para que a temperatura média global se estabilize nesse patamar até 2035, será necessário reduzir as emissões de gases do efeito estufa em 57%, segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).
A meta de limitar o aquecimento a bem abaixo de 2°C, com esforços para conter o aumento a 1,5°C, surgiu do Acordo de Paris, firmado em 2015. Atualmente, poucos países entregaram suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), que são metas voluntárias para reduzir as emissões; até o início de outubro, apenas 62 nações haviam oficializado seus compromissos, enquanto outras 101 se comprometeram a fazê-lo até a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em Belém, no próximo mês.
Guterres explicou que a ultrapassagem do limite de 1,5°C é inevitável para os próximos anos, o que implicará um período de temperaturas acima desse valor com diferentes intensidades. Contudo, ele destacou que *não estamos condenados* e que, se houver uma mudança de paradigma e ações urgentes forem adotadas para alcançar emissões líquidas zero e posteriormente negativas no futuro, ainda será possível conter o aquecimento dentro do limite até o fim deste século.
O secretário-geral também chamou a atenção para a necessidade de sistemas de alerta precoce contra desastres climáticos, que podem salvar vidas e reduzir danos materiais. Ele informou que a meta da OMM é implementar esses sistemas globalmente até 2027, ressaltando que avisos com apenas 24 horas de antecedência podem diminuir os danos em até 30%. Até o momento, mais de 60% dos países já implementaram sistemas de alerta para múltiplos perigos climáticos.
O líder da ONU enfatizou ainda a urgência em mobilizar recursos financeiros, solicitando na COP30 um plano para liberar US$ 1,3 trilhão anuais até 2035 para os países em desenvolvimento enfrentarem os desafios climáticos. Segundo ele, além do aumento das temperaturas — que já resultou em 2023 ser o ano mais quente já registrado, com temperatura média global 1,45°C acima dos níveis pré-industriais — os impactos socioeconômicos e ambientais são severos, com ondas de calor extremas, incêndios, inundações e desastres naturais cada vez mais frequentes, prejudicando especialmente as populações mais vulneráveis.
Em resumo, a mensagem da ONU aponta para um cenário preocupante, mas que pode ser alterado com comprometimento global, inovação científica e financiamento robusto para a adaptação e mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, na busca para que o planeta não ultrapasse de forma irreversível o limite crítico de aquecimento.

