Moradores dos complexos da Penha, do Alemão e de outras favelas do Rio de Janeiro realizaram um protesto na tarde desta sexta-feira (1º), em resposta à Operação Contenção, que terminou com 121 mortos, configurando a ação mais letal da história do estado. Mesmo sob forte chuva, milhares de pessoas se reuniram no campo de futebol da Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, antes de iniciarem uma caminhada até a Avenida Brasil, uma das principais vias expressas da cidade. Entre os manifestantes, destacaram-se mães que perderam filhos em operações policiais anteriores, unidas em busca de justiça e criticando o que chamam de violência estatal desmedida.
Uma dessas mães, Liliane Santos Rodrigues, residente no Complexo do Alemão, perdeu seu filho Gabriel Santos Vieira há seis meses. O jovem de 17 anos foi baleado durante uma perseguição policial enquanto estava na garupa de uma moto-táxi, a caminho do trabalho. Liliane expressou sua dor e solidariedade às famílias afetadas: “Só sabe quem passa por isso”, afirmou, contando ainda que sua filha de 9 anos teme que o mesmo destino possa atingí-la. Ela lamenta a falta de informações sobre o ocorrido e destaca o trauma causado às famílias e à comunidade.
A Operação Contenção, feita pelas polícias Civil e Militar com cerca de 2,5 mil agentes, teve o objetivo de cumprir mais de 60 mandados de prisão contra integrantes do Comando Vermelho, facção criminosa que domina as áreas do Alemão e da Penha. O confronto resultou na morte de quatro policiais e 117 civis, dos quais muitos tinham histórico criminal e mandados de prisão em aberto. No entanto, entidades de direitos humanos classificaram o evento como um massivo “massacre”, denunciando abusos como tortura e mutilações entre os corpos recolhidos pelos moradores.
O impacto da operação foi sentido em toda a cidade, com queima de ônibus, barricadas e suspensão de aulas e trabalho devido à insegurança generalizada. A divulgação dos números oficiais gerou controvérsia quando moradores encontraram e expuseram corpos em uma praça, contradizendo dados iniciais das autoridades. Até o momento, houve a prisão de 81 suspeitos e a apreensão de armas e drogas em grande escala, mas os debates sobre a proporção da violência e a eficácia da estratégia policial permanecem intensos.
O protesto dos moradores, reforçado pelas vozes das mães em luto, questiona a política de segurança baseada na repressão pesada e pede que o Estado invista mais em educação, emprego e políticas sociais nas favelas, em vez de operações que resultam em tantas mortes e aprofundam o medo e a insegurança nas comunidades. A manifestação simboliza, portanto, tanto a resistência popular quanto a busca por mudanças na abordagem da segurança pública no Rio de Janeiro.

