O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), anunciou que a Polícia Federal (PF) abrirá um inquérito para investigar o crime organizado no Rio de Janeiro, com foco na apuração de esquemas de lavagem de dinheiro e na infiltração de facções criminosas no poder público. A medida foi comunicada durante audiência com representantes de entidades de direitos humanos, em que foram discutidos os desdobramentos da Operação Contenção, realizada na capital fluminense e que resultou em mais de 120 mortes, sendo a ação policial mais letal da história do estado.
A investigação terá como objetivo atingir a estrutura financeira das organizações criminosas, especialmente o Comando Vermelho, para enfraquecer o poder econômico que sustenta a violência e o domínio territorial dessas facções. Alexandre de Moraes ressaltou que o combate efetivo ao crime organizado depende da ocupação duradoura do Estado nas áreas controladas por esses grupos, enfatizando a necessidade de estratégias para recuperar o controle desses territórios.
Durante a audiência, o ministro também destacou a falta de autonomia e estrutura da perícia técnico-científica do Rio de Janeiro, atualmente subordinada à Polícia Civil, o que, segundo ele, compromete a independência e a transparência das investigações sobre ações policiais no estado. O Supremo Tribunal Federal acompanhará de perto a apuração das mortes ocorridas na Operação Contenção, solicitando inclusive imagens das operações para avaliar possíveis excessos no uso da força.
Alexandre de Moraes atua como relator temporário da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) das Favelas, uma ação que busca combater a letalidade policial e proteger os direitos humanos nas comunidades cariocas. A decisão de abrir o inquérito ocorreu após a aposentadoria do ex-relator, o ministro Luís Roberto Barroso, conferindo a Moraes a responsabilidade de conduzir medidas urgentes no processo. A Operação Contenção, deflagrada em 28 de outubro de 2025, mobilizou cerca de 2.500 agentes para combater o avanço do Comando Vermelho nas comunidades da Penha e do Alemão, mas, apesar do alto número de mortos, não conseguiu capturar os principais líderes da facção, o que reforça a importância da atual investigação para desarticular totalmente a organização criminosa e suas conexões institucionais.

