O presidente da Confederação Brasileira dos Trabalhadores da Pesca e Aquicultura (CBPA), Abraão Lincoln Ferreira da Cruz, negou ser responsável por uma entidade fantasma durante depoimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A CBPA é investigada pela Polícia Federal na Operação Sem Desconto, que apura descontos irregulares feitos em benefícios do INSS entre 2019 e 2024. Abraão Lincoln afirmou que a confederação existe de fato, iniciando com 12 federações e atualmente com 21, abrangendo pouco mais de 1000 colônias e sindicatos de pescadores, presentes em 95% dos municípios onde há confederados, apesar de não possuir trabalhadores filiados diretamente a ela.
Um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU), no entanto, aponta que a sede da CBPA funciona em uma pequena sala comercial, com apenas uma secretária para atendimento, e que a entidade não possui infraestrutura compatível com seu universo de 360.632 associados em mais de 3.600 municípios. A confederação é acusada de desviar cerca de R$ 221,8 milhões de benefícios de aposentados e pensionistas, o que levou à determinação judicial do bloqueio dos bens de Abraão Lincoln e da entidade.
Durante o depoimento, Abraão Lincoln exerceu seu direito ao silêncio nos casos em que poderia se autoincriminar, orientado por sua defesa. O relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar, criticou a entidade por uma evolução suspeita no número de associados cadastrados junto ao INSS para descontos associativos, que passou de quatro cadastros em 2022 para mais de 757 mil em 2025, correspondendo a mais de R$ 221 milhões descontados. Também foi destacado que 99% dos beneficiários que reclamaram dos descontos afirmaram não tê-los autorizado.
Ainda foram feitas perguntas sobre a relação da CBPA com outros envolvidos no esquema, como a Confederação Nacional de Agricultores Familiares (Conafer) e o ex-procurador geral do INSS Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho, mas Abraão Lincoln permaneceu em silêncio. Diante da negativa em responder as questões, o presidente da CPMI suspendeu temporariamente os trabalhos para negociação com a defesa da testemunha.
O depoimento deixou evidente a complexidade das investigações sobre o esquema que inclui descontos ilegais em benefícios previdenciários, com suspeitas graves sobre a atuação da CBPA e seu presidente, que hoje enfrenta apreensão judicial de bens e possível pedido de prisão por suposto falso testemunho.

