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No Rio, Casa de Rui Barbosa recebe acervos de autores indígenas

# A Fundação Casa de Rui Barbosa oficializa incorporação de acervos de escritores indígenas

A Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB) oficializa nesta sexta-feira (28), às 19h, no Rio de Janeiro, a doação de acervos de escritores indígenas, que, pela primeira vez, passam a integrar o patrimônio da instituição. A cerimônia será durante a 1ª Festa Literária da Fundação Casa de Rui Barbosa (FliRui) e marca um momento histórico para a preservação da memória literária brasileira.

A incorporação dos materiais reforça a política de preservação da fundação e reconhece o papel central de autores indígenas na literatura brasileira contemporânea. Os acervos passam a compor o Arquivo-Museu de Literatura Brasileira, setor responsável por salvaguardar a produção literária nacional. Entre os 154 titulares do arquivo, não havia nenhum escritor indígena até este momento, representando uma ausência profundamente sentida na instituição.

Os doadores incluem três grandes nomes da literatura indígena brasileira. Daniel Munduruku, escritor, educador e ativista do povo Munduruku, autor de mais de 70 livros, entrega itens como sua primeira máquina de escrever, fotografias, cartas, desenhos e exemplares originais de primeiras edições. Márcia Kambeba, escritora, poetisa e fotógrafa do povo Omágua/Kambeba, doa álbuns fotográficos produzidos em aldeias, desenhos autorais baseados em grafismos tradicionais, poemas inéditos e objetos como maracá, cuia e bordados feitos por ela. Eliane Potiguara, primeira escritora indígena do Brasil e fundadora do Grumin, entrega cartas recebidas e enviadas ao longo de sua trajetória, manuscritos, materiais de pesquisa, registros de atuação política e comunitária, pôsteres, diplomas e documentos que testemunham décadas de participação no movimento indígena.

Para Márcia Kambeba, a iniciativa vai além do simples armazenamento de documentos. Segundo ela, esses ambientes históricos tornam-se mais completos quando acolhem vozes ancestrais que escrevem a partir de seus saberes, memórias, vivências e cosmologias. Ao receber autores indígenas, suas narrativas, grafismos e modos de ver o mundo, ampliam-se horizontes, desconstroem-se estereótipos e fortalecem-se outras formas de compreender a relação entre humano e não humano, território e bem-viver.

O presidente da FCRB, Alexandre Santini, afirma que a chegada desses acervos representa um gesto profundo de reconhecimento e uma mudança institucional. Ao acolher as culturas indígenas como protagonistas do pensamento, da memória e da criação literária, abre-se caminho para uma compreensão mais ampla do país e do povo brasileiro. Santini ressalta que esse processo foi construído com muito cuidado, respeitando um protocolo de consultas aos indígenas e incorporando outras formas de conceber e preservar a ideia de acervo.

Com o tema “Literatura e Democracia”, a Fundação Casa de Rui Barbosa celebra a diversidade literária no ano em que o Rio de Janeiro é reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como Capital Mundial do Livro. A programação da FliRui inclui atividades dedicadas às culturas originárias, como rodas de histórias, narrativas tradicionais e mediações para o público infantil, além de mesas sobre línguas indígenas, processos criativos e modos de narrar o mundo. O evento será encerrado com uma conferência de Ailton Krenak sobre imaginação, arte e cinema. A iniciativa pretende fortalecer a cidade como território de leitura, memória e criação, reconhecendo que a memória literária do país precisa refletir todas as vozes que a constroem.

Fonte: Agência Brasil – Matéria Original (Clique para ler)
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