Maria de Fátima Marinelli, de 68 anos, segurava com carinho a certidão de óbito retificada de seu marido, Nativo da Natividade de Oliveira, um trabalhador rural e ativista de direitos humanos assassinado em 1985 durante os últimos anos da ditadura militar no Brasil. O documento, entregue numa cerimônia no Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, reconhece oficialmente que sua morte foi causada por agentes do Estado brasileiro no contexto da repressão política daquela época, marcando uma reparação histórica para a família e para a memória das vítimas da ditadura.
Nativo da Natividade era presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Carmo do Rio Verde, em Goiás, e atuava em defesa dos camponeses, enfrentando resistências duras de grupos ligados aos interesses agrários. Em sua trajetória de militância, que começou nos anos 1970, foi fisicamente ameaçado por fazendeiros contrários à organização e melhorias para os trabalhadores. Em 23 de outubro de 1985, foi assassinado perto do sindicato, crime que mobilizou líderes sindicais de todo o país e permaneceu impune por muito tempo. Segundo investigações, o assassinato teria sido contratado por autoridades locais, incluindo o prefeito da cidade à época, Roberto Pascoal Liégio, com o envolvimento de fazendeiros influentes da região.
Maria de Fátima, ex-cortadora de cana-de-açúcar, permanece viva na luta pela justiça e pela memória do marido. Ela destacou que a retificação da certidão é uma forma de honra para todos aqueles que enfrentaram a repressão e dedicaram suas vidas à luta por direitos e justiça social. A família enfrentou anos de medo e perseguição até mesmo depois da morte de Nativo, precisando mudar de residência devido às intimidações e a um contexto também marcado por questões raciais e sociais. A reparação jurídica representa um reconhecimento oficial da violência e das violações cometidas pela ditadura, reafirmando o compromisso do Estado brasileiro com a verdade e a memória.

