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Número de trabalhadores por aplicativo cresce 25% e chega a 1,7 milhão

A expansão do trabalho por aplicativos no Brasil ganha contornos cada vez mais marcantes diante da escalada dos números registrados nos últimos anos. Entre 2022 e 2024, o número de pessoas que utilizam plataformas digitais como principal meio de trabalho teve um salto de 25,4%, atingindo a marca de 1,7 milhão de pessoas – 335 mil a mais do que havia dois anos antes. O avanço do setor é evidenciado não só pelo contingente absoluto, mas também pelo peso crescente desses trabalhadores no total da população ocupada: de 1,5% para 1,9% dos mais de 88 milhões de brasileiros com 14 anos ou mais que estão no mercado de trabalho.

A transformação no perfil do emprego vem acompanhada de mudanças significativas na relação dos trabalhadores com o mercado. Enquanto a maior parte dos brasileiros ainda depende de empregos formais, 71,1% dos “plataformizados” estão na informalidade. Ou seja, a grande maioria não tem carteira assinada nem registro como pessoa jurídica (CNPJ). A concentração é ainda mais nítida quando analisada a forma de inserção: 86,1% atuam por conta própria, um percentual três vezes maior do que o observado na média da população ocupada. O restante se divide entre empregadores, empregados sem e com carteira assinada.

O estudo do IBGE demonstra que o perfil predominante entre os trabalhadores por aplicativos é masculino, jovem e com ensino médio completo. Homens respondem por 83,9% do total, bem acima da média de 58,8% na população ocupada. A faixa etária mais expressiva é a de 25 a 39 anos (47,3%), seguida por pessoas entre 40 e 59 anos (36,2%). O Sudeste concentra mais da metade desses trabalhadores, reforçando a concentração econômica já tradicional na região.

Os aplicativos de transporte de passageiros (excluindo táxi) lideram a preferência, respondendo por 53,1% do total, seguidos pelos de entrega de comida e produtos (29,3%), prestação de serviços gerais (17,8%) e táxi (13,8%). A categoria de serviços profissionais inclui desde designers até profissionais de telemedicina, que usam a plataforma para captar clientes e oferecer serviços. Dentro desse universo, 72,1% atuam como motoristas ou motociclistas, o que ajuda a explicar a forte presença masculina.

A renda mensal desses trabalhadores, segundo outras pesquisas, pode variar de acordo com a atividade e a jornada, mas tende a ficar acima do salário mínimo, especialmente entre motoristas, o que ajuda a explicar o crescimento da categoria. Gustavo Fontes, analista responsável pelo levantamento do IBGE, destaca que, além da renda, a flexibilidade horária é um dos principais atrativos: o trabalhador pode escolher quando, como e onde exercer sua atividade.

Ainda assim, a informalidade e a ausência de direitos trabalhistas emergem como desafios centrais. O debate jurídico sobre a natureza da relação entre trabalhadores e plataformas segue intenso, com a questão do vínculo empregatício em julgamento no Supremo Tribunal Federal. Enquanto trabalhadores relatam precarização, as empresas afirmam que não há vínculo empregatício formal.

Importante destacar que o levantamento do IBGE considerou apenas quem tem o aplicativo como principal meio de intermediação de trabalho, excluindo quem faz bicos ocasionais. Além disso, a pesquisa ainda é classificada como experimental, não englobando, por exemplo, plataformas de hospedagem e aluguel, com a promessa de ampliação para o comércio eletrônico em 2025. Os números e o perfil traçado mostram que, mais do que uma tendência, o trabalho por aplicativo já é uma realidade estruturante do mercado de trabalho brasileiro, com reflexos profundos na vida de milhões de pessoas e na discussão sobre o futuro do emprego.

Fonte: Agência Brasil – Matéria Original (Clique para ler)