A Polícia Federal deflagrou, nesta terça-feira (14), a Operação Narco Bet, com a prisão de 11 pessoas, apreensão de mais de uma dezena de veículos de luxo e o bloqueio de R$ 630 milhões em bens e valores. A ação visou desarticular um esquema milionário de lavagem de dinheiro ligado ao tráfico internacional de cocaína, que utilizava empresas de apostas on-line, conhecidas como bets, como fachada para a entrada e ocultação de recursos ilegais. Essa lavagem envolvia técnicas sofisticadas, como movimentações financeiras em criptomoedas e remessas internacionais, destinadas a ocultar a origem ilícita dos valores e a dissimular o patrimônio do grupo criminoso.
Foram cumpridos 19 mandados de busca e apreensão em várias cidades de quatro estados brasileiros: Santa Catarina, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, além de uma prisão realizada na Alemanha com apoio da polícia local. Os investigados incluíram o influenciador digital Bruno Alexssander Souza Silva, conhecido como Buzeira, que acumula cerca de 15 milhões de seguidores nas redes sociais, e o empresário Rodrigo Morgado, dono de um escritório de contabilidade em Santos. Ambos foram detidos sob acusações relacionadas à lavagem de dinheiro originário do tráfico de drogas por meio das bets.
A operação é um desdobramento da Narco Vela, realizada em fevereiro de 2023, quando a Marinha dos Estados Unidos apreendeu um veleiro brasileiro suspeito de transportar grandes carregamentos de cocaína do litoral brasileiro para a Europa. Essa ação revelou uma rota naval de tráfico internacional, mostrando também as estratégias do crime para lavar e nacionalizar os recursos ilícitos. Na ocasião, mais de 300 policiais federais e 50 policiais militares participaram da operação, que cumpriu 35 mandados de prisão, 62 mandados de busca e apreensão e bloqueou cerca de R$ 1,32 bilhão em bens.
As investigações destacam que parte dos bilhões de reais obtidos com o tráfico de drogas era utilizada para regularizar ilegalmente as empresas de apostas on-line, que representam um importante canal para a lavagem de capitais, conforme alertam especialistas do setor financeiro. Além do uso de criptomoedas, o esquema se valia da complexidade das remessas internacionais para evitar a detecção pelas autoridades, dificultando o rastreamento da origem do dinheiro sujo.
A ação da Narco Bet reforça um problema crescente no Brasil e no mundo, pois o setor de apostas esportivas on-line tem sido utilizado por organizações criminosas para a lavagem de dinheiro. Segundo estudos e alertas de instituições financeiras, esses jogos — embora regulados em parte — ainda enfrentam desafios na fiscalização e na aplicação de políticas eficazes de combate ao uso ilícito, especialmente por meio da manipulação de apostas e da introdução de recursos ilegais nas plataformas de jogos. Além disso, essa modalidade de crime traz riscos não só financeiros, mas também sociais, afetando a saúde mental de usuários e incentivando práticas ilegais dentro do mercado de apostas.
O combate a esses crimes exige coordenação entre órgãos nacionais e internacionais, aprimoramento da legislação e o fortalecimento das ferramentas de análise financeira no setor de apostas, a fim de impedir que grupos criminosos ampliem suas operações por meio desses mecanismos e que recursos provenientes de atividades ilícitas sejam integrados à economia formal.
