Uma operação conjunta deflagrada nesta quinta-feira (16) em cinco estados brasileiros fiscaliza 24 empresas do setor sucroalcooleiro para investigar o uso de metanol em bebidas alcoólicas adulteradas. A ação, denominada Operação Alquimia, envolve uma força-tarefa composta por agentes da Polícia Federal, Receita Federal, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O foco é rastrear a origem do metanol encontrado em bebidas falsificadas que têm causado intoxicações graves em consumidores, algumas fatais.
Além das empresas produtoras de álcool, a operação também mira importadores e distribuidores de metanol nos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A escolha das empresas para fiscalização se baseou em suspeitas relacionadas à cadeia de produção e distribuição do metanol, desde sua importação até o destino final. A investigação apoia-se em indícios de que o metanol – tóxico e não autorizado para consumo humano – tem sido desviado do uso legal, como combustível e insumo industrial, para a fabricação clandestina de bebidas alcoólicas adulteradas.
O caso tem origem em um aumento expressivo de intoxicações por metanol, que começaram a ser detectadas no fim de agosto, atingindo pessoas que consumiram bebidas em bares, festas e encontros sociais. Diferentemente dos casos tradicionais, associados à ingestão acidental de combustíveis por populações vulneráveis, essas intoxicações sinalizaram para uma adulteração em garrafas de bebidas comercializadas. A suspeita central é que fábricas clandestinas utilizem metanol para higienizar garrafas falsas ou adulteradas antes de envasar bebidas, contaminando o produto final.
Essa ação é um desdobramento das operações Boyle e Carbono Oculto, que desvendaram um esquema de adulteração de combustíveis com metanol, envolvendo desde a importação da substância até sua destinação irregulares via empresas de fachada. A Operação Carbono Oculto revelou que o metanol importado por empresas regulares era repassado ilegalmente para empresas de fachada, que desviavam o produto para postos de combustíveis e, segundo as investigações atuais, também para a produção clandestina de bebidas alcoólicas.
A investigação aponta que diversas empresas químicas adquiriram metanol de forma legal, mas comercializaram parte da substância para empresas que não tinham uso autorizado, configurando um esquema de desvio. Além disso, notas fiscais fraudulentas indicavam caminhões e motoristas inexistentes, sugerindo fraudes documentais para encobrir o desvio do produto. Usinas produtoras e distribuidoras de etanol, atuando em pontos críticos da cadeia produtiva, também estão sob investigação para identificar possíveis irregularidades na destinação e adulteração dos lotes.
A coleta de amostras e documentos nas campanhas de fiscalização visa comparar o metanol apreendido em bebidas e o encontrado nas empresas investigadas, para confirmar a ligação entre os lotes e a cadeia de fornecimento. O metanol é uma substância altamente tóxica para o ser humano, sendo letal mesmo em quantidades pequenas quando ingerida. A Organização Mundial da Saúde recomenda que o teor de metanol em bebidas alcoólicas seja inferior a 0,1%, enquanto o limite máximo permito em combustíveis é até 0,5%, ambos níveis que representam risco substancial à saúde caso ultrapassados.
No total, 24 empresas dos setores sucroalcooleiro e químico, além de importadores e distribuidores, foram visitadas pela operação, com atos de fiscalização em diversas cidades distribuídas nos estados envolvidos, incluindo áreas da Região Metropolitana de Campinas como Limeira e Sumaré. A força-tarefa busca desarticular o esquema que envolve organização criminosa altamente organizada e prevenir novas intoxicações, protegendo a saúde pública e combatendo fraudes que causam prejuízos bilionários e graves danos sociais.

