OPINIÃO | A saída da FORD e a política falida de Paulo Guedes. Uma tragédia anunciada

A cena é de uma tragédia grega.

Cena I

Brasil. Ano 2021. Governo Federal promete e anuncia empregos e a retomada econômica. A realidade se impõe. Empresas fecham e abandonam o país.

Governo

Para o bem da população, dizermos nós que o país vive uma retomada econômica. Apresentar-lhe-emos os dados em separado, sem compararmos os períodos.

O Povo

Ajuda-nos ó bom governo. Que será de nós diante de um destino tão impiedoso!?

A realidade

Nada farei em benefício teu! Avisei-te inúmeras vezes sobre teus passos obsequiosos em direção ao abismo. Fizeste de livre vontade. Assume tua culpa.


Viu? É uma tragédia. Acrescente ao fundo, luzes e uma penumbra fraca. Som de choros e murmúrios. Tropel de passos. As luzes aumentam, as vozes diminuem. Choro de criança. Uma velha pigarreia. Um cachorro late. Gritos.


Poderia ser um teatro em Atenas, mas é o anúncio da saída da FORD do Brasil.

O resultado é o mesmo. Uma tragédia. Mais de 5 mil funcionários demitidos e 3 fábricas fechadas. E o prenúncio de tempos ainda mais difíceis pela frente.

A expectativa é a pior possível. O futuro, incerto.

A saída da montadora norte-americana destoa do “país da retomada” que Paulo Guedes insiste em vender. A realidade se impõe. O Brasil afunda sob a pandemia somada a uma política fiscal e econômica ultrapassada, que aposta na economia de mercado como a solução mágica para todos os problemas. Uma didática esquecida na década de 90.

O sucateamento da máquina pública, os planos de demissão “voluntária”, as privatizações de ativos produtivos, o congelamento de investimentos e salários, a entrega dos serviços públicos à iniciativa privada, são ingredientes da receita para o fracasso.

A busca megalomaníaca por um “Estado mínimo”, já mostrou ao mundo que nada produz, se não, mais pobreza. Veja a Europa, com Estados fortes, que investem e subsidiam setores exportadores para torná-los competitivos. Países escandinavos como a Dinamarca, que apresentam uma carga tributária correspondente a mais de 45% do PIB.

O Estado ou o leviatã, como nos ensinou Tomas Hobbes, deve ser forte e com o poder centralizado, pois ele precisa ter capacidade para conter os impulsos naturais que promovem uma relação caótica entre as pessoas.

Um Estado enfraquecido, gera o caos na sociedade e uma disputa cega pelo poder. Ninguém prospera.

Por falta de aviso não foi. É uma tragédia anunciada.

Por J. Laurentino

Esse texto foi recebido por colaboração independente e não reflete, necessariamente, a opinião do Portal NegoPB.