Em sua primeira missa dominical após ser proibido pela Arquidiocese de São Paulo de transmitir o rito na internet, o padre Júlio Lancellotti afirmou que as ações da Pastoral de Rua, dedicada ao atendimento de pessoas em situação de rua, estão sendo alvo de conspiração. Neste domingo, ao final da celebração na capela da Universidade São Judas Tadeu, no bairro da Mooca, zona leste de São Paulo, o religioso de 77 anos destacou que, enquanto ele e seus colaboradores se unem em fraternidade e oração, outros se organizam para destilar ódio contra o trabalho social.
“Eu não sei o que é que vai acontecer nas próximas semanas, porque, assim como nós nos juntamos para dizer que somos irmãos, muitos se juntam também para conspirar contra. Assim como nós nos juntamos para rezarmos juntos, outros se juntam para conspirar, para fazer formas de destilar o seu ódio”, declarou o padre, após listar atividades da pastoral. Ele enfatizou que os críticos desconhecem a história e os esforços realizados, convidando todos a visitar os projetos para comprovar sua legitimidade.
O padre Júlio recordou as iniciativas no Centro Santa Dulce, na Casa Santa Virgínia e na Casa Nossa Senhora das Mercês, onde são produzidos diariamente cerca de dois mil pães em uma padaria mantida exclusivamente por doações voluntárias, sem qualquer custeio público. Esses pães são distribuídos em diversos pontos da cidade, incluindo o café da manhã para populações vulneráveis, e a produção é realizada por ex-moradores de rua em processo de reinserção profissional, aprendendo o ofício de panificação.
Mesmo diante da proibição de usar redes sociais, imposta pelo arcebispo Odilo Pedro Scherer para supostamente protegê-lo, a missa foi transmitida ao vivo pela Rede Jornalistas Livres no Instagram, alcançando os mais de dois milhões de seguidores que o padre acumula nessas plataformas. A medida da Arquidiocese, que não se manifestou quando procurada, gerou reações, incluindo uma carta de 40 organizações de apoio à população de rua pedindo a revisão da decisão.
Padre Júlio, pároco da paróquia de São Miguel Arcanjo e vigário episcopal da Pastoral do Povo da Rua, reafirmou seu compromisso com grupos discriminados. “Até o fim, nós estaremos com aqueles que lutam pela terra, pelos povos indígenas, pelas mulheres, pelos negros, por todos os que são discriminados, pela Palestina livre. Mesmo que em alguns momentos sejamos diminuídos, alvejados e feridos, mesmo machucados e sangrando, nós amaremos até o fim”, proclamou, defendendo moradores de rua, sem-terra, indígenas, negros, palestinos e mulheres.
Conhecido por décadas de atuação junto a menores infratores, detentos, pacientes com HIV/Aids e populações carentes, o sacerdote tem denunciado preconceitos e violências sociais, como arrastões policiais contra moradores de rua e barreiras a auxílios emergenciais. Seu trabalho, apoiado por entidades como o Instituto Alok, busca capacitar agentes comunitários e promover políticas públicas, dando visibilidade às causas dos excluídos.

