O papa Leão XIV celebrou pela primeira vez, na noite desta quarta-feira (24), os ritos de Natal na Basílica de São Pedro, no Vaticano, e usou a homilia e a mensagem papal para reforçar um apelo à paz diante de conflitos globais e do avanço de tecnologias bélicas, como a inteligência artificial aplicada a fins militares[2][4].
Na celebração conhecida como Missa do Galo, o pontífice dedicou parte central de seu discurso a uma proposta de “paz desarmada e desarmante”, pedindo que governos e sociedades construam uma cultura de paz tanto na vida pública quanto na vida doméstica; a mensagem foi antecipada pelo Vaticano como parte das atividades do novo pontificado, iniciado há sete meses[2][4]. Leão XIV criticou a corrida armamentista e o aumento das despesas militares, observando que narrativas que exaltam uma suposta necessidade permanente de segurança contribuem para a militarização das relações entre nações[4].
O papa também alertou para os riscos do uso bélico da inteligência artificial, afirmando que a delegação de decisões de vida e morte a máquinas pode reduzir a responsabilidade dos líderes e agravar uma “espiral de destruição” que compromete os fundamentos éticos e jurídicos das sociedades[4]. Na sua visão, tecnologias que radicalizam a violência tornam ainda mais urgente o diálogo e a confiança mútua entre Estados e comunidades[4].
Leão XIV pediu que cada comunidade se torne uma “casa de paz”, onde se neutralizem hostilidades por meio do diálogo, se pratique a justiça e se conserve o perdão, e defendeu uma criatividade pastoral capaz de demonstrar que a paz não é uma utopia[4]. Esses pontos fazem parte da mensagem que o papa preparou também para o Dia Mundial da Paz, em 1º de janeiro, quando insistirá no desarmamento e em modelos de liderança inspirados na luta “desarmada” de Jesus Cristo[4].
Líderes de outras tradiões religiosas no Brasil responderam à mensagem com avaliações favoráveis e pedidos de ação concreta. O teólogo e pastor batista Marco Davi de Oliveira afirmou que o papa provocou uma “profunda reflexão sobre a paz” e ressaltou que a construção da paz começa no interior de cada pessoa, sendo necessária a longo prazo e envolvendo respeito e alteridade[4]. O pastor e cantor gospel Kleber Lucas disse que Leão XIV continua o legado do papa anterior ao destacar a urgência da paz e estimulou práticas cotidianas de conciliação e diálogo[4].
Representantes do espiritismo e das religiões afro-brasileiras também se manifestaram: o vice-presidente da Federação Brasileira Espírita, Geraldo Campetti, enfatizou que a paz é uma conquista diária necessária para a felicidade e saudou a análise papal[4]; o babalaô Ivanir dos Santos, integrante da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa e professor da UFRJ, elogiou a orientação do papa, mas cobrou que as palavras se convertam em gestos concretos, apontando contradições de autoridades católicas que, segundo ele, não seguem integralmente essa direção[4].
A celebração e a mensagem de Leão XIV marcam a primeira participação do novo pontífice nas celebrações natalinas oficiais do Vaticano e abrem um ciclo de intervenção pública que inclui a Missa do Dia de Natal e atos litúrgicos e protocolares ao longo das festas de fim de ano e do início de 2026[2][3].

