Seis mandados de busca e apreensão foram cumpridos nesta terça-feira (21) pela Polícia Civil do Estado de São Paulo contra uma organização criminosa suspeita de adulteração de combustível, fraude volumétrica e lavagem de dinheiro em postos de gasolina localizados em Santos, Praia Grande e Araraquara. A ação, desdobramento da Operação Carbono Oculto, investiga um esquema bilionário que atua na cadeia de produção e distribuição de combustíveis, com indícios de adulteração do combustível e bombas que liberam menos combustível do que indicam os visores.
A operação mobilizou 32 policiais civis e contou com o apoio da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), do Instituto de Pesos e Medidas (Ipem) e da Secretaria da Fazenda. Durante as fiscalizações, em um dos postos foi confirmada a adulteração e a fraude volumétrica. O delegado Tiago Fernando Correia destacou que as investigações buscam também identificar sócios ocultos e verificar sonegação fiscal nos estabelecimentos ligados a familiares do principal alvo da Operação Carbono Oculto.
Desde agosto, as autoridades identificaram mais de 300 postos com irregularidades, entre eles a importação ilícita de metanol que, em vez de ser entregue aos destinatários indicados nas notas fiscais, era transportado clandestinamente para outros destinos e utilizado para adulterar combustíveis. A presença de metanol, produto inflamável e tóxico, representa risco à segurança de motoristas, pedestres e ao meio ambiente.
O esquema também envolve fraudes no pagamento das redes de combustíveis, com simulação de compras de espaços para venda que não eram efetivamente pagas, além de ameaças aos cobradores. Para ocultar os lucros, os criminosos utilizavam uma complexa rede de pessoas, instituições financeiras e fundos de investimento, empregando até fintechs para dificultar o rastreamento dos recursos ilícitos. Estima-se que aproximadamente mil postos em diversos estados do país tenham sido usados para lavagem de dinheiro e movimentação financeira de cerca de R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024.
Essa rede criminosa controla praticamente toda a cadeia do setor, da importação ao comércio final, fazendo uso de empresas de fachada e fundos de investimento para esconder os verdadeiros beneficiários do esquema. A ANP informou que as evidências coletadas poderão fundamentar processos administrativos que podem levar à suspensão das autorizações dos estabelecimentos envolvidos, muitos dos quais já haviam sido punidos anteriormente.
A Operação Carbono Oculto é a maior ação já realizada contra a infiltração do Primeiro Comando da Capital (PCC) no setor de combustíveis, revelando a dimensão do crime organizado na cadeia de produção e comercialização de combustíveis no Brasil, assim como os prejuízos ao consumidor e ao Estado decorrentes dessa atividade ilícita. As investigações seguem em andamento visando desarticular completamente a organização e responsabilizar os envolvidos.

