Home / Brasil e Mundo / Pela 1ª vez, uniões consensuais superam casamento civil e religioso

Pela 1ª vez, uniões consensuais superam casamento civil e religioso

Pela primeira vez na história do Brasil, a parcela de pessoas que vivem em união conjugal consensual supera a proporção de matrimônios civis e religiosos. Segundo dados do suplemento Nupcialidade e Família do Censo 2022, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2022, 38,9% das uniões conjugais eram consensuais, ou seja, os casais não formalizaram o casamento, seja no cartório ou na igreja. São cerca de 35,1 milhões de pessoas vivendo em situações como a de união estável.

Esse percentual era de 28,6% no ano 2000 e de 36,4% em 2010, demonstrando uma tendência de crescimento contínuo. Em contrapartida, os casamentos civis e religiosos, que representavam 49,4% do total de uniões em 2000, caíram para 37,9% em 2022. No Censo de 1970, essa modalidade era ainda mais predominante, com 64,5% das relações formalizadas. Já os matrimônios apenas religiosos recuaram de 4,4% para 2,6% no mesmo período, enquanto o casamento apenas civil subiu de 17,5% para 20,5%.

Voltando ao Censo de 1960, 60,5% das relações eram formalizadas com casamento civil e religioso, enquanto as consensuais eram apenas 6,4%. A mudança é clara: o modelo tradicional de casamento, antes dominante, vem sendo substituído por relações mais flexíveis, práticas e menos formais, refletindo uma transformação cultural profunda no país.

O levantamento mostra que as uniões consensuais são mais comuns entre pessoas com até 39 anos e de menor renda. No grupo de 20 a 29 anos, as uniões consensuais estão presentes em 24,8% dos lares com cônjuges, enquanto os casamentos civis e religiosos representam apenas 5,8%. Entre 30 e 39 anos, a proporção é de 28,5% de uniões consensuais e 17,8% de casamentos civis e religiosos. Já na faixa de 50 a 59 anos, 22,1% das uniões são casamentos civis e religiosos, e as consensuais somam 13%.

Quando se observa o rendimento per capita dos cônjuges, os casos de união consensual superam todas as demais formas de casamentos entre os que recebem até um salário mínimo. Na classificação por religião, as uniões consensuais são mais da metade (62,5%) dos casais sem religião, 40,9% entre os católicos e 28,7% entre os evangélicos.

A pesquisadora do IBGE Luciane Barros Longo avalia que o crescimento das uniões consensuais mostra uma mudança comportamental no país. “A gente pode afirmar que a união consensual é ainda um fenômeno mais jovem, está mais relacionada às pessoas de menor renda”, afirma.

O levantamento do IBGE revela que, em 2022, pouco mais da metade (51,3%) da população com 10 anos ou mais de idade vivia em relação conjugal, totalizando 90,3 milhões de pessoas. No Censo 2000, esse percentual era de 49,5%. As pessoas que nunca viveram em união conjugal eram 38,6% em 2010 e 30,1% em 2022. Já as que não viviam em união conjugal, mas já tinham vivido em momento anterior, eram 11,9% em 2010 e 18,6% em 2022.

O Censo coletou dados de pessoas a partir de 10 anos de idade e encontrou 34,2 mil na faixa de 10 a 14 anos, sendo 77% do sexo feminino. A idade média da primeira união, entre pessoas a partir de 15 anos, é de 25 anos, sendo que as mulheres têm idade média menor (23,6 anos) do que os homens (26,3 anos).

O Censo apresenta também informações de seletividade marital. A análise indica que a maior parcela (69,2%) das mulheres brancas em união conjugal se une a parceiros também brancos. Entre as pretas, a maior parte (48%) se relaciona com homens pardos. Entre as pardas, 69,2% vivem com homens também pardos. A análise da seletividade marital dos homens aponta que, entre os brancos, 71,5% vivem com mulheres também brancas. Entre os pretos, a maior parte (39,3%) se relaciona com mulheres pretas. No grupo dos pardos, 70,2% são unidos a mulheres pardas.

A mudança no perfil das relações conjugais no Brasil reflete uma sociedade mais urbana, digital e plural, onde o casamento perde status de obrigação social e a união consensual se consolida como a nova forma majoritária de convivência afetiva no país contemporâneo.

Fonte: Agência Brasil – Matéria Original (Clique para ler)