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Pesquisa indica mulheres jovens mais progressistas que homens

A pesquisa inédita “Juventudes: Um Desafio Pendente”, realizada pela Fundação Friedrich Ebert Stiftung no Brasil (FES Brasil) e divulgada em 5 de novembro de 2025, revela que as mulheres jovens brasileiras são mais progressistas em suas percepções políticas e sociais em comparação aos homens, que adotam posicionamentos mais conservadores. O levantamento entrevistou 2.024 jovens de 15 a 35 anos por meio de painéis online, apontando divergências de gênero, mas também convergências na defesa da necessidade de políticas públicas e redução das desigualdades no país.

Segundo o estudo, 65% das mulheres destacam a importância de políticas públicas focadas em saúde, educação e combate à pobreza, enquanto os homens tendem a ser mais conservadores especialmente em temas como aborto e valores políticos tradicionais. Apesar disso, ambos os gêneros concordam com a necessidade de políticas sociais e reconhecem o papel do Estado, especialmente em educação, emprego e segurança pública.

No espectro político, 38% dos jovens brasileiros se posicionam à direita, 44% no centro e 18% na esquerda, com as mulheres mais inclinadas à esquerda (20%) do que os homens (16%). Contudo, o diretor de projetos da FES Brasil, Willian Habermann, ressalta que essa autodeclaração à direita não significa necessariamente apoio a pautas extremistas, mas reflete uma juventude que valoriza o papel do Estado nas políticas de bem-estar social.

Os jovens brasileiros demonstram uma relação complexa com a democracia: 66% consideram-na a melhor forma de governo, mas 49% acreditam que a democracia pode funcionar sem partidos. Essa desconfiança se reflete na baixa credibilidade dos partidos políticos, rejeitados por 57% dos entrevistados, e em índices similares para a Presidência e o Legislativo. Para a juventude, instituições como universidades, igrejas e meios de comunicação são mais confiáveis.

A pesquisa destaca ainda a importância atribuída a temas sociais e ambientais, com 86% defendendo a oferta prioritária de educação e saúde pelo Estado, 85% valorizando a proteção ao meio ambiente e 75% apoiando a autonomia dos povos indígenas e comunidades étnicas. A redistribuição de renda também é uma pauta relevante, com 60% apoiando imposto adicional para os ricos.

No campo dos direitos, as posições progressistas prevalecem em temas como liberdade de orientação sexual (66% apoiam), casamento entre pessoas do mesmo sexo (58%) e acesso a cuidados de saúde para pessoas transgênero (59%), embora prevaleça maior conservadorismo em relação à legalização do aborto, apoiada por apenas 33% dos jovens.

Apesar de níveis elevados de satisfação pessoal e familiar — 68% e 70%, respectivamente — a juventude demonstra insatisfação significativa com a economia (46%) e a situação geral do país (55%). Isso reflete as consequências históricas das desigualdades e das reformas que agravaram a precarização do trabalho. Também se observa desigualdade no mercado de trabalho: só 29% dos jovens negros e 32% dos pardos têm trabalho estável, contra 45% dos jovens brancos. Além disso, 45% dos jovens das classes mais baixas estão desempregados ou buscando oportunidades.

O levantamento aponta que os principais problemas que preocupam a juventude brasileira são pobreza, desemprego, falta de acesso a direitos, consumo de drogas, corrupção e crime organizado, e que a maioria espera que o Estado garanta políticas de emprego, sociais e de segurança cidadã.

A conexão desse público com as redes sociais é intensa, sendo o canal preferido para busca diária de informações para 60% dos jovens e predominante para 57%, superando a televisão e os meios tradicionais impressos. Plataformas como YouTube e WhatsApp estão entre as mais utilizadas, embora a pesquisa não avalie a veracidade das informações consumidas.

A pesquisa integra um projeto regional que abrange 14 países da América Latina e Caribe, mostrando tendências comuns: juventudes que valorizam a democracia, o papel do Estado na garantias de direitos sociais e tendem a se posicionar mais ao centro do espectro político. O estudo oferece uma importante base para compreender as demandas políticas, sociais e culturais da juventude dessa região e os desafios para o fortalecimento da democracia e das políticas públicas.

Fonte: Agência Brasil – Matéria Original (Clique para ler)