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Pesquisador da Uerj defende monitoramento da trajetória de ex-cotistas

A criação de grupos de trabalho para acompanhar os egressos da política de ação afirmativa na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) é considerada fundamental para avaliar a efetividade dessa medida. O sociólogo Luiz Augusto Campos, um dos principais pesquisadores na área e organizador do livro *Impacto das Cotas: Duas Décadas de Ação Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro*, defende que a avaliação dos impactos das cotas deve considerar a trajetória dos estudantes após a universidade, pois, se não houver efeitos positivos fora do ambiente acadêmico, a política pública terá fracassado. Campos enfatiza que a Lei de Cotas é uma política intermediária para reduzir desigualdades no mercado de trabalho, e não um fim em si mesma.

A Uerj foi pioneira no país ao adotar cotas em 2003, integrando critérios raciais e socioeconômicos, limitando o ingresso a candidatos com renda familiar per capita de até R$ 2.277. No entanto, esse limite é considerado baixo, especialmente para a pós-graduação, onde muitos estudantes classificados como carentes não chegam nem ao mestrado, e aqueles que obtêm bolsa deixam de ser considerados carentes, o que dificulta o acesso via cotas nesse nível acadêmico. Por isso, a política na pós-graduação da Uerj enfrenta desafios, fazendo com que cotistas egressos defendam a revisão do critério socioeconômico para ampliar o número de negros e pardos nesse grau de ensino.

Dados do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) mostram que pessoas pretas representam apenas 4,1% dos mestres e 3,4% dos doutores no Brasil, enquanto pardos somam 16,7% e 14,9%, respectivamente. Indígenas aparecem em porcentagens ainda menores, confirmando a desigualdade racial persistente nas titulações acadêmicas. Entre 1996 e 2021, quase metade dos títulos de mestrado e mais da metade dos doutorados foram obtidos por pessoas brancas, demonstrando a necessidade de aprimoramento das políticas afirmativas para combater essas disparidades.

A Lei 8.121, de 2018, que regulamenta as ações afirmativas na Uerj e o corte socioeconômico, só será revista em 2028. Até lá, Campos sugere que as universidades possam, com base na autonomia, ajustar os editais de ingresso para flexibilizar as restrições socioeconômicas, visto que a rigidez tem levado a várias judicializações na entrada em cursos de mestrado e doutorado. Ele recomenda uma legislação mais flexível para ampliar o acesso e a permanência de estudantes cotistas nesses níveis acadêmicos.

Com 20 anos de experiência na implementação das cotas, a Uerj avança no monitoramento das trajetórias dos egressos como forma de entender os efeitos reais da política de ação afirmativa, debatendo o impacto social para além dos muros universitários e apontando a necessidade de adaptações para melhor cumprir seu papel na redução das desigualdades educacionais e sociais no Brasil.

Fonte: Agência Brasil – Matéria Original (Clique para ler)