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Ponte entre Tocantins e Maranhão que desabou há um ano é reinaugurada

Exatamente um ano após a tragédia que ceifou 14 vidas, a nova ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira foi inaugurada nesta segunda-feira, 22 de dezembro, com a liberação do trânsito pouco depois das 12h30. A estrutura que liga os municípios de Aguiarnópolis, no Tocantins, e Estreito, no Maranhão, marca o fim de um capítulo de reconstrução acelerada após o colapso que chocou o país.

A cerimônia contou com a presença do ministro dos Transportes, Renan Filho, além dos governadores do Maranhão, Carlos Brandão, e do Tocantins, Wanderlei Barbosa. A inauguração representa não apenas a recuperação de uma via estratégica, mas também um símbolo de resiliência após a tragédia de 22 de dezembro de 2024, que resultou em 14 mortos, três desaparecidos e uma pessoa ferida.

A antiga ponte, construída na década de 1960, havia se tornado problemática ao longo dos anos. Apesar de reparos realizados em 2021, a estrutura continuava apresentando sinais de deterioração. No dia do colapso, dez veículos caíram no Rio Tocantins, incluindo três motos, um carro, duas caminhonetes e quatro caminhões. Dois desses caminhões transportavam cargas perigosas: 76 toneladas de ácido sulfúrico e aproximadamente 22 mil litros de defensivos agrícolas, o que gerou preocupações imediatas com possível contaminação das águas do rio.

A investigação da Polícia Federal, que durou mais de sete meses, revelou detalhes perturbadores sobre o colapso. Utilizando drones, scanners a laser e modelagem 3D, os peritos apontaram que a queda foi provocada pela deformação do vão central, causada pelo excesso de peso dos veículos. O laudo constatou vibrações excessivas e um rebaixamento de 70 centímetros no vão central, descrevendo as condições da ponte como “sofríveis e precárias”.

Um aspecto crítico revelado na investigação diz respeito às decisões administrativas que antecederam o desastre. O documento aponta que o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes manteve “um tráfego superior ao projetado para a ponte, ao longo das últimas décadas de sua existência”. Além disso, constatou-se manutenção inadequada e reformas mal executadas. Uma tentativa de licitação foi feita em 2024, mas não teve vencedor, e a ponte desabou antes que uma nova licitação fosse concluída.

A delegado responsável não deixou dúvidas sobre a natureza criminal do caso: houve omissão por parte de agentes públicos quanto à manutenção da obra. O desastre não foi fortuito, mas anunciado, era de conhecimento público e era plausível que pudesse acontecer. Moradores da região já alertavam as autoridades sobre o estado precário da estrutura. Elias Júnior, vereador de Aguiarnópolis, chegou a filmar a ponte no momento do colapso para denunciar problemas visíveis, como fissuras e desgaste avançado.

A nova ponte, reconstruída pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, recebeu investimento de R$ 172 milhões. A estrutura apresenta significativas melhorias em relação à anterior. Com 630 metros de extensão, ela é consideravelmente maior que a antiga, que tinha 533 metros. A nova construção também é mais larga, com 19 metros no total, e conta com vão livre central de 154 metros, superior aos 140 metros da estrutura anterior.

O projeto inclui duas faixas de rolamento de 3,6 metros cada, dois acostamentos de três metros, barreiras de proteção do tipo New Jersey e passagens exclusivas para pedestres. A construção utilizou o método do balanço sucessivo, uma técnica avançada empregada em pontes de grandes vãos, especialmente em locais onde não é possível instalar escoramentos no solo. A obra contou com 60 aduelas, permitindo vencer grandes distâncias com precisão e segurança. Para sustentar a nova ponte, foram executadas 24 fundações e erguidos 26 pilares.

Antes da abertura ao público, a segurança da estrutura foi rigorosamente testada. No último fim de semana foram realizadas cerca de 20 horas de testes estruturais contínuos. Oito caminhões do tipo betoneira, carregados pesando em média 30 toneladas cada, passaram pela ponte em sequência com velocidades diferentes. Sensores foram utilizados para medir a trepidação e a resposta da estrutura, garantindo que a nova construção atendesse aos mais altos padrões de segurança.

As investigações sobre o colapso continuam em andamento. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes abriu uma Investigação Preliminar Sumária na Corregedoria para apurar as causas e determinar responsabilidades, prejudízos decorrentes e quantificação de danos. A instituição também contratou o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo para produzir um relatório externo adicional que aponte às causas do desastre.

Para os especialistas envolvidos nas investigações, o caso representa um alerta crucial sobre a importância da prevenção. Manutenção adequada realizada no tempo apropriado e reavaliações periódicas da carga suportada pelas pontes podem evitar que tragédias similares ocorram novamente. A reinauguração da ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, portanto, marca não apenas o retorno da conectividade entre os dois estados, mas também um momento para reflexão sobre a importância da infraestrutura segura e bem mantida no Brasil.

Fonte: Agência Brasil – Matéria Original (Clique para ler)

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