Pesquisadores, ativistas e familiares de pessoas desaparecidas durante a ditadura militar se uniram em Petrópolis, no Rio de Janeiro, para preservar a memória política e defender os direitos humanos. O imóvel conhecido como Casa da Morte, localizado na rua Arthur Barbosa, foi um dos principais centros clandestinos de tortura e assassinatos durante o regime militar, funcionando nos anos 1970. O local só se tornou conhecido graças à coragem de Inês Etienne Romeu, única sobrevivente das sessões de tortura realizadas ali, que denunciou os crimes cometidos e ajudou a identificar torturadores e vítimas.
A história do imóvel é marcada por violência e segredos. Durante a ditadura, militares utilizaram a casa para prender, torturar e eliminar opositores do regime, principalmente militantes de organizações de esquerda. Ex-agentes da repressão, como o coronel Paulo Malhães, admitiram em depoimentos públicos que corpos eram ocultados e mutilados para dificultar a identificação das vítimas. Estima-se que dezenas de pessoas tenham sido assassinadas e enterradas clandestinamente na região, sendo muitas delas desaparecidas até hoje.
Antes de servir à repressão militar, o terreno onde foi construída a Casa da Morte pertenceu a Ricardo Lodders, um alemão suspeito de espionagem nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Indícios históricos apontam que Lodders colaborava com os nazistas e que a região de Petrópolis era um ponto de mobilização para simpatizantes do regime alemão, mesmo após a proibição de partidos estrangeiros no Brasil. A presença de transmissores de rádio e material de comunicação apreendidos na propriedade reforça a ligação do local com atividades de espionagem.
A luta para transformar a Casa da Morte em um centro de memória e justiça tem sido liderada por familiares de desaparecidos, ativistas e instituições de direitos humanos. O grupo que integra o Ponto de Cultura Inês Etienne, inspirado na trajetória da ativista, realiza atos públicos e promove ações comunitárias para fortalecer a reflexão, a educação e a resistência. A intenção é que o imóvel seja desapropriado e convertido em um espaço voltado à memória, verdade e justiça, onde a história da ditadura possa ser lembrada e discutida.
Apesar de o processo de desapropriação ter sido autorizado pela Justiça, o imóvel ainda permanece em mãos privadas, dificultando a concretização do projeto. O movimento continua mobilizado, buscando recursos e apoio institucional para garantir que a Casa da Morte se torne um símbolo de resistência e um alerta para que crimes do Estado contra brasileiros não se repitam. O grupo planeja promover exibições de filmes, apresentações musicais e exposições culturais que remetam ao período da ditadura, mantendo viva a memória das vítimas e a luta por direitos humanos.

