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Povos da floresta sofrem mais com o clima, diz líder extrativista

Com a aproximação da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas – a COP30, em Belém do Pará –, lideranças de povos tradicionais, comunidades extrativistas e indígenas fizeram no início desta semana um apelo urgente para que as populações da floresta sejam ouvidas no centro das discussões globais sobre o clima. Durante o evento Pré-COP dos Povos e Comunidades Tradicionais, realizado na terça-feira, 14 de outubro, representantes de diversas regiões do Brasil defenderam a necessidade de mudança no foco dos debates, que tradicionalmente privilegiam governos e grandes economias. “Ninguém sofre mais com a questão climática do que as pessoas que moram na floresta e que vivem da agricultura familiar. São essas pessoas que produzem para levar alimento para a cidade”, afirmou Julio Barbosa de Aquino, presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas.

A frase de Julio Aquino ecoa uma realidade duramente sentida no cotidiano dessas populações. O exemplo citado por ele é ilustrativo: quando um bioma é afetado, rios tornam-se intrafegáveis, o que impede não só o transporte de alimentos, mas também o escoamento da produção local. O resultado é um isolamento que atinge a alimentação, a educação e até mesmo a segurança dessas comunidades. “Nem os barcos chegam lá com alimento. Nem a produção sai de dentro desses territórios para fazer o comércio. Nem a merenda escolar ou o transporte escolar chegam”, descreveu o líder extrativista, sublinhando que, para quem vive na floresta, a pauta climática não é uma abstração, mas uma questão de sobrevivência diária.

A quebradeira de coco Maria Nice Machado Aires, da Baixada Maranhense, lembrou que a COP30 será um momento decisivo para defender não apenas as reservas extrativistas já existentes, mas também novas áreas protegidas. “Nós temos sido exemplos de fortalecimento da floresta. Até porque nós temos uma política diferenciada que defende o meio ambiente, e a política social e cultural”, afirmou Maria Nice. Ela ressaltou que o modo de vida das comunidades tradicionais é, em si, uma resposta à degradação ambiental e ao desmatamento.

O governo federal tem afirmado que as reivindicações desses povos estão na agenda oficial da conferência. A secretária nacional de povos e comunidades tradicionais, Edel Moraes, destacou que o Ministério do Meio Ambiente fez avanços na redução do desmatamento, o que impacta diretamente a vida de indígenas, quilombolas e extrativistas. “O Ministério do Meio Ambiente conseguiu diminuir o desmatamento que afetava diretamente também comunidades extrativistas, povos e comunidades tradicionais”, afirmou ela, lembrando que a gestão da conferência criou o Círculo dos Povos, um espaço para ampliar a participação dessas populações nas negociações.

Ângela Mendes, presidente do Comitê Chico Mendes e filha do líder seringueiro, foi além ao defender que não é possível falar em justiça climática sem justiça territorial. “Não é possível fazer justiça climática sem fazer justiça territorial, sem reconhecer o direito e a importância desses povos”, reforçou. Ângela apontou ainda o papel fundamental dos jovens na defesa do meio ambiente, valorizando seu potencial de comunicação e mobilização para construir mudanças significativas.

A crítica ao foco restrito das conferências do clima também veio de organizações não governamentais. José Otávio Passos, diretor da The Nature Conservancy, lembrou que as agendas internacionais frequentemente se concentram em energia e combustíveis, temas prioritários para países ricos. Na avaliação dele, é necessário olhar também para as crises de biodiversidade e a social. “Falta a gente olhar para duas outras crises, a da biodiversidade e a social. Ter a COP na Amazônia é uma oportunidade de a gente col

Fonte: Agência Brasil – Matéria Original (Clique para ler)