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Presidente cobra compromisso global no combate a mudanças climáticas

Diante de um cenário global de urgência climática, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou nesta semana, na Malásia, o apelo mais forte do Brasil por compromissos concretos na luta contra as mudanças do clima. Durante a cerimônia de concessão do título de doutor Honoris Causa na Universidade Nacional da Malásia, Lula anunciou o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), um dos mais ambiciosos mecanismos internacionais de financiamento já propostos para a conservação ambiental. O fundo será apresentado oficialmente na COP30, marcada para 10 de novembro em Belém, no Pará, cidade no coração da Amazônia.

O TFFF promete revolucionar a forma como o planeta valoriza e financia a conservação das florestas tropicais. O mecanismo funcionará remunerando países que comprovem a preservação de áreas florestais, tornando a floresta em pé mais rentável do que sua derrubada. O Brasil, liderando pelo exemplo, anunciou um aporte inicial de US$ 1 bilhão ao fundo, com a expectativa de mobilizar, ao todo, US$ 125 bilhões até 2026, sendo US$ 25 bilhões de outros países e US$ 100 bilhões do setor privado. O Banco Mundial foi escolhido como gestor do fundo, assegurando transparência e governança internacional.

A proposta, que beneficia mais de 70 países em desenvolvimento com florestas tropicais, parte de uma premissa inovadora: até 75% dos recursos serão investidos em títulos de renda fixa de economias emergentes, enquanto 25% poderão ser direcionados a outros instrumentos de mercado. Os juros sobre o capital investido serão revertidos para os investidores, e o valor excedente será pago aos países que comprovarem a preservação de suas florestas. Além disso, ao menos 20% dos recursos devem ser destinados diretamente a povos indígenas e populações tradicionais.

O fundo pretende distribuir, quando plenamente capitalizado, cerca de US$ 4 bilhões por ano para a preservação de florestas ao redor do mundo. Cada país poderá receber até US$ 4 por hectare preservado, desde que apresente provas de conservação, como imagens de satélite. O governo brasileiro acredita que esse modelo pode tornar a conservação um ativo financeiro global, dando um novo sentido à economia verde.

Em seu discurso, Lula destacou que a nova proposta surge como resposta à falta de recursos para uma transição energética justa, dez anos após o Acordo de Paris. Ele alertou que as mudanças climáticas podem levar 132 milhões de pessoas à extrema pobreza até 2030, caso não haja ação coordenada. “Na busca por lucros ilimitados, muitos se esquecem de cuidar do planeta Terra. Uma década após o Acordo de Paris, faltam recursos para uma transição justa e planejada. Sobretudo, falta tempo para corrigir rumos”, afirmou.

Lula chamou a COP30 de “COP da verdade”, momento de superar a ganância extrativista e agir com base na ciência. Ele lembrou que, até agora, menos de 70 países apresentaram novas metas de redução de emissões, e destacou que apenas 14 dos maiores poluidores cumpriram suas obrigações. O presidente reforçou que a conferência em Belém será decisiva para pressionar o cumprimento dessas metas, já que os dados científicos indicam que ultrapassar o limite de 1,5°C de aquecimento global é praticamente inevitável, o que pode levar o planeta a pontos de não retorno, como a destruição dos recifes de corais e das próprias florestas tropicais.

A mensagem do Brasil é clara: o país quer ser exemplo na transição para uma economia de baixo carbono, mostrando que é possível associar preservação ambiental, desenvolvimento sustentável e justiça social. Para isso, convoca as potências globais a assumirem responsabilidades e investimentos proporcionais ao desafio climático enfrentado pela humanidade.

Enquanto isso, a proposta do Fundo Florestas Tropicais para Sempre já começa a atrair olhares internacionais, com Alemanha, Noruega e Reino Unido sinalizando para uma possível adesão, e a China apoiando politicamente, ainda sem contribuição financeira confirmada. O consenso é de que, se bem-sucedido, o TFFF pode se tornar o maior fundo multilateral de conservação de florestas tropicais da história, transformando a preservação ambiental em um dos principais ativos estratégicos do século XXI.

O presidente brasileiro encerrou seu discurso reafirmando o compromisso com as 30 milhões de pessoas que vivem na Amazônia brasileira, defendendo que o combate ao desmatamento e a construção de uma economia sustentável são também uma garantia de dignidade para essas populações. Às vésperas da COP30, o Brasil aposta que, mais do que discursos, o mundo precisa de ações concretas — e o TFFF pode ser o marco dessa mudança.

Fonte: Agência Brasil – Matéria Original (Clique para ler)