A Formação Axé-Amém, promovida pelo Instituto de Estudos da Religião (ISER), é uma iniciativa que reuniu pessoas negras evangélicas e de religiões de matriz africana para construir pontes entre diferentes expressões de fé no Brasil. O objetivo central do projeto foi articular estratégias para enfrentar o racismo religioso e promover a integração por meio do diálogo e da fé. Ao longo de quatro meses, 37 escritores participantes produziram o livro “Axé-Amém: Encruzilhadas da Fé Negra no Brasil”, que reúne 37 textos com relatos sobre dupla pertença religiosa, memórias familiares, formação política e práticas de resistência espiritual, inspirados no conceito de Escrevivência, criado pela escritora Conceição Evaristo.
O livro e a formação destacam a fé como ferramenta de resistência e transformação social, trazendo histórias que refletem os desafios e as potencialidades da convivência entre evangélicos e praticantes de religiões afro-brasileiras, frequentemente vistos como antagonistas. A metodologia adotada parte da ideia de encruzilhada — um espaço de confluência e diálogo entre diferenças, em vez de oposição — promovendo o aprendizado mútuo e o reconhecimento da fé do outro como possibilidade de construção coletiva.
Participantes da formação, como Amanda Damasceno, compartilharam suas experiências de aceitação e transformação familiar e espiritual, demonstrando o impacto pessoal e comunitário do projeto. O babalorixá Igor Almeida ressaltou a importância de derrubar paradigmas e promover respeito entre as diversidades religiosas presentes no Brasil. A publicação foi lançada no Rio de Janeiro e é vista como uma ferramenta para fomentar debates e educação religiosa em igrejas, terreiros, comunidades, escolas e bibliotecas, contribuindo para a superação da intolerância que afeta especialmente os grupos negros evangélicos e de matriz africana no país.
Em 2024, houve um aumento significativo de 80% nas violações motivadas por intolerância religiosa no Brasil, com quase 4 mil denúncias registradas, o que realça a relevância de iniciativas como a Axé-Amém para a promoção de um ambiente de respeito e cooperação entre as religiões e para o enfrentamento do racismo religioso. A formação e a publicação refletem um esforço coletivo para reconhecer a pluralidade e a riqueza das vivências religiosas negras brasileiras, apontando caminhos para uma convivência mais inclusiva e solidária.

