# O Recuo do Home Office no Brasil: Tendências Contraditórias e Desafios em 2025
Após dois anos consecutivos de queda, o home office no Brasil enfrenta um momento de inflexão. Em 2024, aproximadamente 6,6 milhões de pessoas realizavam suas atividades profissionais de casa, número inferior aos 6,7 milhões registrados em 2022. A proporção de trabalhadores em regime domiciliar diminuiu de 8,4% para 7,9% do total de ocupados, marcando uma reversão na tendência de crescimento acelerado durante a pandemia de covid-19.
O ponto de virada ocorreu em 2023, quando 6,61 milhões de brasileiros trabalhavam de casa, equivalente a 8,2% da força de trabalho. Esses dados, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) através de uma edição especial da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), revelam uma transformação significativa no mercado de trabalho nacional. O levantamento considera o universo de 82,9 milhões de trabalhadores em 2024, excluindo empregados do setor público e trabalho doméstico.
## O Legado da Pandemia e a Realidade Atual
O historiador do trabalho remoto mostra uma trajetória clara: em 2012, apenas 3,6% dos trabalhadores realizavam suas funções de casa. Este percentual cresceu gradualmente para 5,8% em 2019, antes de atingir seu pico em 2022 com 8,4%. Embora o recuo dos últimos dois anos seja evidente, o nível atual ainda permanece significativamente superior aos patamares pré-pandêmicos, demonstrando que novas tecnologias e práticas de trabalho deixaram marcas permanentes na estrutura ocupacional brasileira.
As mulheres constituem a maioria absoluta dos trabalhadores em home office, representando 61,6% dessa população. Quando observado o universo total de trabalhadoras, 13% delas estão em regime domiciliar, uma proporção substancialmente maior que a dos homens, entre os quais apenas 4,9% trabalham de casa. Essa disparidade reflete tanto maior flexibilidade para mulheres em certas profissões quanto possíveis diferenças nas estruturas ocupacionais por gênero.
## O Impasse entre Empresas e Trabalhadores
A redução quantitativa do home office ocorre em contexto de conflito ideológico entre empregadores e empregados. Enquanto 80% das empresas desejam abandonar o regime totalmente remoto, 65% dos trabalhadores afirmaram que considerariam trocar de emprego se forçados a retornar ao presencial. Esse antagonismo revela-se também em estatísticas de rotatividade: a proporção de profissionais que se demitiram por falta de flexibilidade aumentou de 25% para 31% em apenas um ano, com movimento particularmente intenso entre Geração Z e Millennials, atingindo 56% nessas faixas etárias.
Pesquisa do Grupo Top RH com Infojobs reforça essa preferência: 85,3% dos profissionais brasileiros estariam dispostos a trocar de emprego por mais dias de trabalho remoto na semana. Esse desejo persiste apesar dos movimentos empresariais de retorno presencial, indicando que a pressão por presencialidade pode intensificar a rotatividade e comprometer a retenção de talentos, especialmente em setores que oferecem alternativas de flexibilidade.
## A Emergência do Modelo Híbrido
Entre as tendências mais relevantes para 2025 emerge o modelo híbrido como verdadeira novidade do mercado. O trabalho híbrido cresceu cinco vezes em um ano, atingindo 11% das contratações em 2024 e superando as ofertas de posições totalmente remotas. Conforme levantamento da consultoria Korn Ferry, 61% das empresas brasileiras consideram ideal que o home office ocupe apenas dois dias por semana, mantendo o mesmo percentual observado em 2023.
Entre as empresas que alteraram sua política de trabalho remoto no último ano, 86% diminuíram a quantidade de dias de home office, 10% aumentaram esses dias, 2% adotaram modelo totalmente presencial e 2% adotaram regime totalmente remoto. Esse padrão sugere que a transformação do mercado não reside na eliminação do escritório, mas na reconfiguração do trabalho presencial através de arranjos mais flexíveis que equilibrem presença física e autonomia locacional.
## Desafios da Transição
A redução abrupta de flexibilidade apresenta riscos significativos. Quarenta e um por cento das empresas brasileiras já encontraram desafios na atração de talentos devido à adoção de políticas de redução de dias de home office. Os possíveis efeitos adversos incluem resistência de funcionários, queda de motivação e engajamento, aumento da rotatividade, deterioração do clima organizacional, estresse com novas rotinas presenciais e falhas de comunicação interna.
Casos práticos ilustram essas tensões: no início de 2025, o Nubank, um dos maiores bancos do país, anunciou regressão gradual no trabalho de casa, resultando na demissão de 12 funcionários conforme informou o Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo. Em março, funcionários da Petrobras realizaram paralisação contra a diminuição do teletrabalho, entre outras reivindicações.
## Perspectivas para 2025 e Além
O ano de 2025 marca virada decisiva para o trabalho remoto no Brasil. A fase experimental pós-pandemia cedeu lugar a negociação dos termos de novo equilíbrio entre empresas e profissionais. Setores como Tecnologia da Informação apresentam dinâmica distinta: o déficit estimado de 530 mil profissionais até 2029 e a natureza digital das funções fazem da flexibilidade uma estratégia competitiva. Desenvolvedores de software, especialistas em nuvem e cientistas de dados encontram-se entre os cargos mais comuns em regime totalmente remoto, refletindo escassez de talentos nessas áreas.
Dados de busca do Google indicam crescimento paradoxal de interesse: buscas por trabalho remoto aumentaram 1.570% em cinco anos, sugerindo que embora a oferta de posições totalmente remotas diminua, a demanda dos trabalhadores por flexibilidade permanece vigorosa. Estimativas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) indicam que 22,7% de todas as ocupações no Brasil poderiam ser exercidas remotamente, abrindo espaço potencial para mais de 20 milhões de profissionais, vastamente superior aos atuais 9,5 milhões em teletrabalho.
A legislação trabalhista brasileira permite que empresas exijam retorno presencial mediante comunicação com antecedência mínima de 15 dias e formalização em aditivo contratual. Benefícios concedidos para home office, como reembolso de internet e energia, podem ser revogados, embora em casos de risco à saúde o trabalhador possa solicitar manutenção do teletrabalho com comprovação médica.
Enquanto 67% das companhias entrevistadas aceitam algum tipo de trabalho remoto, o cenário em construção aponta menos para eliminação do home office e mais para reconfiguração das estruturas de trabalho através de modelos híbridos que atendam simultaneamente às demandas empresariais de presença e colaboração e às expectativas de trabalhadores por autonomia e flexibilidade. O descompasso persistente entre oferta corporativa e demanda profissional permanece como fator crítico que moldará as dinâmicas do mercado de trabalho nos próximos anos.

