O secretário executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), Simon Stiell, destacou hoje, durante a abertura da COP30 em Belém, a importância de acelerar o financiamento climático para garantir uma transição energética justa e eficaz, especialmente por meio da ampliação do uso de energias renováveis em detrimento dos combustíveis fósseis. Em seu discurso, Stiell enfatizou que o momento exige ações concretas para colocar em prática o plano de ação definido em Baku, durante a COP29, adaptando-o para os desafios e oportunidades da região amazônica.
Na COP29, foi estabelecida uma nova meta de financiamento climático, com o objetivo de triplicar os recursos destinados aos países em desenvolvimento, passando de US$ 100 bilhões anuais para US$ 300 bilhões até 2035, além de ampliar o montante total de investimentos públicos e privados para US$ 1,3 trilhão por ano até a mesma data. Apesar do avanço, Stiell reconheceu que esses valores ainda são considerados insuficientes pelos países em desenvolvimento e pela delegação brasileira, que defendem um patamar ainda mais alto para enfrentar os impactos das mudanças climáticas.
Para o secretário, a agenda de ação apresentada pelo Brasil para a COP30 é fundamental para impulsionar a transição energética e fortalecer a resiliência das comunidades. Ele ressaltou que cada gigawatt de energia limpa gerado não apenas contribui para a redução das emissões, mas também cria empregos e fortalece as economias locais. “A agenda de ação não é algo supérfluo, é crucial para a missão. Mais do que isso, é para o bem da própria nação. Cada ação para fortalecer a resiliência ajuda a salvar vidas, fortalecer as comunidades e proteger as cadeias globais das quais todos dependem. Esta é a história de crescimento do século XXI, a transformação econômica da nossa era”, afirmou.
Stiell também fez um balanço dos dez anos do Acordo de Paris, destacando que, embora o mundo tenha conseguido dobrar a curva de emissões de gases de efeito estufa, ainda há muito a ser feito para limitar o aquecimento global a 1,5°C. Ele citou relatórios recentes da ONU que mostram que, mesmo com os avanços, o planeta não conseguirá atingir essa meta nos próximos anos se as atuais tendências se mantiverem. “Há dez anos, em Paris, estávamos discutindo o futuro que desenharia a queda da curva de emissões. Esse futuro chegou. De fato, a curva de emissões apresentou declínio e isso deve a salas como esta, com legislação governamental e respostas do mercado, mas não vou dourar a pílula. Precisamos agir muito, mas muito mais rápido, tanto na redução das emissões quanto no fortalecimento da resiliência. A ciência é clara, podemos e devemos reduzir as temperaturas ao limite de 1,5ºC, após um desvio de curso temporário”, acrescentou.
O secretário defendeu que o caminho para a retomada na queda das emissões passa pelo incremento da cooperação internacional, já que os compromissos nacionais de redução de emissões, as chamadas NDCs, têm se mostrado insuficientes. “Não precisamos esperar que entrem em efetividade as NDCs, feitas para identificar as lacunas e desenhar as inovações necessárias para enfrentar os problemas. Nenhuma nação pode se dar a esse luxo, enquanto desastres climáticos consomem duas casas decimais do PIB mundial. Vacilar enquanto mega secas destroem plantações, fazendo os preços dispararem, não faz sentido nenhum, nem economicamente, nem politicamente. Discutir enquanto a fome se instala, forçando milhões a abandonar as suas terras natais, isso jamais será esquecido. Na medida em que os conflitos se espalham e os desastres climáticos dizimam a vida de milhões, enquanto já temos as soluções, isso jamais será perdoado”, afirmou.
Stiell concluiu seu discurso reforçando que a cooperação internacional é essencial para enfrentar a crise climática. Ele comparou o processo de implementação das decisões das COPs ao sistema do rio Amazonas, que é sustentado por milhares de afluentes. “Para acelerar a implementação, o processo das COPs deve ser impulsionado por diversas vertentes de cooperação internacional. Nenhum país pode resolver o problema sozinho”, disse.

