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Segundo Acnur, sete em cada dez deslocados enfrentam ameaça climática

Em meados de 2025, o número de pessoas forçadas a abandonar suas casas devido a guerras, violência e perseguição alcançou 117,2 milhões, com a grande maioria, cerca de 86 milhões, estando exposta a altos ou altíssimos riscos climáticos. Esses dados foram divulgados pela Agência das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) no relatório intitulado *No Escape II: The Way Forward*. O documento destaca que as mudanças climáticas se tornaram um componente crucial desse cenário, evidenciado pelos 250 milhões de deslocamentos internos provocados em apenas uma década por desastres associados ao clima, como tempestades e inundações, incluindo eventos relacionados ao Brasil.

O relatório enfatiza a sobreposição simultânea entre eventos climáticos extremos e outras ameaças, como conflitos armados e perseguições políticas, agravando a vulnerabilidade das populações deslocadas. Além das tempestades, inundações e ondas de calor, fenômenos como a elevação do nível do mar e a desertificação intensificam os desafios enfrentados. Os autores alertam que as medidas de fortalecimento da resiliência são imprescindíveis não apenas para os deslocados, mas também para as comunidades que os acolhem, muitas das quais vivem em condições precárias similares.

Uma projeção alarmante para o Brasil indica que, até 2040, o número de países enfrentando riscos climáticos extremos deve aumentar de 3 para 65, muitos dos quais, incluindo o Brasil, já abrigam populações deslocadas. Essa transformação implicará que campos de refugiados em regiões mais quentes terão que suportar quase 200 dias de calor extremo por ano, o que poderá tornar esses locais inabitáveis devido à combinação severa de calor e umidade.

O fenômeno do deslocamento forçado atinge níveis recordes e complexos, acumulando um ciclo vicioso onde o choque climático destrói infraestrutura e agrava a pobreza, forçando repetidos deslocamentos. No Brasil, em 2024, mais de 68 mil novas solicitações de reconhecimento da condição de refugiado foram registradas, reforçando o compromisso do país com a acolhida humanitária, mesmo diante dos desafios climáticos e sociais crescentes.

No cenário global, 75% das pessoas deslocadas vivem em países altamente vulneráveis a riscos climáticos, o que indica uma interconexão entre conflitos e crises ambientais que perpetua o sofrimento dessas populações. A Acnur destaca ainda que a maioria dos planos nacionais para o clima ainda não inclui de forma adequada os refugiados e as comunidades anfitriãs, limitando as opções de proteção e adaptação desses grupos altamente vulneráveis. A agência conclama a serem criadas políticas que envolvam o fortalecimento financeiro e a participação ativa dessas comunidades nos processos decisórios, apontando para a necessidade urgente de uma resposta coordenada internacionalmente.

Esse quadro evidencia a crescente complexidade da crise humanitária global, em que a mudança climática forma um novo e perigoso componente de instabilidade, forçando milhões a abandonarem suas casas e buscando segurança, muitas vezes em locais já precários, e insta a comunidade internacional a agir com maior solidariedade e eficácia diante dessas múltiplas ameaças.

Fonte: Agência Brasil – Matéria Original (Clique para ler)