O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a Taxa Selic em 15% ao ano pela quarta vez consecutiva, decisão que gerou críticas intensas do setor produtivo e de centrais sindicais. Embora a medida tenha sido amplamente antecipada pelo mercado financeiro, diversas entidades empresariais e sindicais consideram a manutenção da Selic em patamar tão elevado um obstáculo ao crescimento econômico, principalmente diante de um cenário de inflação em queda, desaceleração da atividade econômica e enfraquecimento do mercado de trabalho.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) manifestou insatisfação, afirmando que o Banco Central ignorou evidências claras que indicam o momento oportuno para iniciar a redução gradual dos juros. O presidente da CNI, Ricardo Alban, classificou a taxa Selic atual como excessiva e prejudicial, ressaltando que a taxa alta encarece crédito, desestimula investimentos e acelera a perda de dinamismo econômico. Similarmente, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) expressou preocupação, alertando que a continuidade do crescimento no setor em 2026 depende de uma redução rápida nos juros.
No comércio, a Associação Paulista de Supermercados (Apas) e a Associação Comercial de São Paulo (ACSP) apresentaram visões divergentes. Enquanto o economista-chefe da Apas considerou que o BC conduz uma política desconectada da realidade nacional e internacional, uma vez que outros países já iniciaram reduções nas taxas de juros, o economista da ACSP adotou posição mais cautelosa, ressaltando que o ambiente econômico ainda apresenta delicadezas como inflação acima da meta e incertezas externas.
No campo sindicais, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) classificou a manutenção da Selic em 15% como um desserviço às necessidades da população, argumentando que juros elevados desviam recursos do investimento produtivo para o rentismo e contribuem para a queda no consumo e na geração de empregos. A Força Sindical foi ainda mais crítica, chamando a política de juros de “vergonha nacional” e acusando o Copom de favorecer especuladores e penalizar a economia real, dificultando as campanhas salariais e o desenvolvimento econômico.
Economistas independentes também apontam para a disparidade entre a taxa Selic e o comportamento da inflação, que em 2025 deve fechar próximo de 4,5%, o que torna a atual taxa real superior a 10%. Tal cenário favorece grandes investidores, mas dificulta o acesso ao crédito para empresas e consumidores, restringindo o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e a dinamização do mercado de trabalho.
O Banco Central justifica a manutenção da Selic em 15% ao ano como medida para assegurar a convergência da inflação para a meta, mantendo vigilância sobre possíveis ajustes futuros e sinalizando que não hesitará em retomar o ciclo de alta caso seja necessário. Entretanto, entidades como a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) apontam que a continuidade dessa política está diretamente relacionada a um desequilíbrio fiscal estrutural, evidenciando que enquanto o governo não equilibrar suas contas, a redução dos juros permanece inviável, mantendo um ambiente econômico restritivo com crédito caro, alta inadimplência e retração dos investimentos.
Portanto, a manutenção da taxa Selic em 15% continua sendo motivo de amplo debate, contrapondo a necessidade de controle inflacionário com os impactos adversos no crescimento econômico, demanda e mercado de trabalho no Brasil.

