O ex-ministro Marcelo Queiroga, quer ser prefeito. Ele é candidato pelo PL à prefeitura de João Pessoa onde concorre em 2º turno com atual prefeito, Cícero Lucena (PP). Médico cardiologista de carreira modesta, Queiroga foi catapultado ao Ministério da Saúde, em março de 2021, auge da pandemia de Covid-19. Convido o leitor (a), a relembrar um pouco de sua conturbada gestão à frente do Ministério da Saúde durante o governo Bolsonaro e porque não, nem de longe, é uma boa opção para a população de João Pessoa.
Tendo substituído o general Eduardo Pazuello, cuja administração foi marcada pela subordinação absoluta aos desmandos do Planalto e pela tragédia da falta de oxigênio em Manaus, desastre humanitário que estampou as manchetes de jornais ao redor do mundo, Queiroga assumiu o ministério em um contexto gravíssimo, com o Brasil sofrendo com uma pandemia descontrolada e uma média de 4 mil mortes diárias.
Nesse cenário, o então presidente Jair Bolsonaro desmerecia as vacinas, minimizava a gravidade da doença e zombava dos pacientes em sofrimento: “E daí? Querem que eu faça o quê? Eu não sou coveiro.” Paralelamente, Bolsonaro promovia tratamentos sem qualquer base científica, como a hidroxicloroquina, ivermectina e até sugerindo o uso de ozônio retal. Os laboratórios que fabricavam esses medicamentos certamente lucraram imensamente.
Mesmo sendo um médico, Queiroga adotou uma postura omissa e subserviente. O silêncio diante das mentiras e desinformações disseminadas pelo presidente e sua equipe teve efeitos devastadores. Muitos brasileiros, influenciados por essa retórica, evitaram a vacina ou aderiram a tratamentos ineficazes, resultando em intoxicações e, em muitos casos, mortes evitáveis. Acumulamos até o dia em que essas palavras são escritas, 713.795 mil mortes por Covid-19. Escrevo o número exato porque cada uma dessas vidas perdidas conta, era um pai, uma mãe, um filho, um amigo querido, e cada um deles conta, ou ninguém conta.
E agora pergunto: quantas dessas mortes não ocorreram por ação ou omissão? Quantas não foram resultado da campanha macabra e dolosa de desinformação que emanava do Palácio do Planalto e do chamado “gabinete do ódio” diuturnamente? Quantas não poderiam ter sido evitadas, se não fosse, a confusão, o medo, as incertezas e inseguranças implantadas na cabeça da população, principalmente os de menor instrução? Em um país com altos índices de analfabetismo funcional, sabemos que esse número é altíssimo, e pesquisas sérias demonstram que esse número poderia ser a metade do que foi, ou talvez menos ainda, não fosse toda essa balbúrdia.
Não se trata aqui de discutir a culpabilidade jurídica, a CPI da Pandemia há muito já passou e o Congresso, bem ou mal, apurou essa responsabilidade. Aqui tratamos da responsabilidade política, moral e ética. O que se esperava de um médico, de alguém que jurou defender a vida? Que se levantasse contra a onda de desinformação vinda do Planalto. Que usasse sua posição para educar a população sobre a importância da vacina, dos cuidados recomendados pela OMS, como o uso de máscaras, higienização das mãos e distanciamento social. Ao invés disso, Queiroga se apequenou, preferindo tergiversar e não contrariar seu chefe.
Um dos momentos mais críticos foi a insistência na ineficácia das vacinas e na defesa de tratamentos não comprovados. Enquanto especialistas e órgãos internacionais como a OMS alertavam sobre os perigos de tais práticas, Queiroga permaneceu em silêncio, traindo a confiança da população e falhando em seu dever ético como médico. Esse silêncio contribuiu para a hesitação vacinal, o que poderia ter sido evitado com uma postura firme e baseada na ciência.
Mesmo como mero distribuidor de vacinas, Queiroga não pode se orgulhar de sua gestão. Em 2022, o Brasil registrou uma das menores coberturas vacinais contra a poliomielite em décadas, com apenas 52,3% das crianças entre dois e seis meses vacinadas, bem abaixo da meta de 95%. Não por acaso, em outubro de 2022, o país viu o retorno da poliomielite, com o primeiro caso registrado em 33 anos. Um reflexo direto da política de desinformação e guerra contra a ciência que caracterizou o governo Bolsonaro.
A gestão de Marcelo Queiroga à frente do Ministério da Saúde será lembrada como um período marcado por polêmicas e decisões questionáveis que minaram a confiança da população em uma instituição outrora reconhecida mundialmente por sua eficiência em vacinação. Durante sua administração, Queiroga viu sua imagem, assim como a do ministério, envolvidas em uma série de controvérsias que afetaram a credibilidade não apenas da vacina contra a Covid-19, mas também de outras políticas públicas essenciais, como o uso de máscaras e o distanciamento social.
Entre os episódios mais graves, destaca-se a emissão de uma nota técnica que colocava em dúvida a eficácia da vacina, posteriormente retirada. Esse ato levou o ministro a ser convocado pelo Senado Federal para esclarecer o ocorrido. Além disso, Queiroga foi acusado de retardar deliberadamente a vacinação em crianças e de decretar o fim da pandemia antes do recomendado pelas autoridades sanitárias globais, incluindo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Outro ponto crítico de sua gestão foi a admissão, durante a CPI da Pandemia, de que o número de vacinas contratadas foi superestimado intencionalmente, uma discrepância gritante em relação ao que o ministério divulgava em suas campanhas publicitárias.
Mesmo diante da CPI, Queiroga seguiu omisso, evitando refutar as declarações do presidente Jair Bolsonaro que desacreditavam as vacinas e desafiavam o trabalho do próprio ministério. Sua postura passiva, que priorizou a lealdade política em detrimento do compromisso com a saúde pública, tornou-se ainda mais evidente quando foi acusado de maquiar dados e promover um “apagão” de informações no Ministério da Saúde, agravando ainda mais a falta de confiança na gestão federal durante a pandemia.
Embora essas acusações sejam de difícil comprovação no contexto político, o fato inegável é que Queiroga tinha a responsabilidade de ser a voz da razão em um momento de caos, por ser médico, por acima de tudo ter o dever ético de fazê-lo, mesmo que isso lhe custasse o cargo e o futuro político. Não o fez, falhou miseravelmente em não se posicionar contra a desinformação disseminada pelo próprio governo que chefiava. Falhou com a população brasileira e sua falha não foi pouca coisa, pois o conjunto da obra custou milhares de vidas, e o ex-ministro não pode agora eximir-se de sua parcela de culpa. É por isso que não, ele não merece ser prefeito dessa cidade linda chamada João Pessoa, pois não oferece nada além de um futuro incerto.
João Pessoa, 20 de agosto de 2024.
Por Pedro Galhardo | OPINIÃO
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